A pouco mais de 200 metros de distancia da casa de mina mãe, construímos, eu e os meus amigos de infância, o nosso “forte” particular. Foi num verão dos anos 80 do século passado quando decidimos ocupar uma esquina do caminho coberto da Obra Coroa que defende a zona mais baixa da cidade de Elvas, nas proximidades da avenida da Boa-Fé.
À época ainda existia o saudoso Regimento de Infantaria e o Centro de Instrução de Condução Auto, do qual ainda recordo como constantemente se viam circular pelas ruas e estradas do Concelho de Elvas os velhinhos camiões Bedford ou os mais recentes, à época, DAF. Sempre iam 3 ou 4 recrutas na caixa do camião para se intercalarem na aula prática de condução.
Ao longo de várias semanas fomos pouco a pouco recolhendo madeiras, caixas de papelão, arames e pregos para construirmos um abrigo que serviu para ser base das nossas aventuras nas férias escolares. Mais de uma vez tivemos que fugir e esconder-nos dos soldados, e também foram várias as vezes que tivemos que iniciar a construção do nosso “forte”, vitima dos “ataques” dos fieis guardiões militares da nossa cidade…
Mais que uma ocupação de um espaço militar, o nosso “forte” era um espaço de brincadeiras infantis, fruto do esforço conjunto na sua construção e o refugio isolado para podermos partir à aventura entre as muralhas da Obra Coroa da fortificação elvense.
Esta Obra Coroa é sem dúvida uma das grandes obras que Nicolau de Langres incorpora ao desenho de Cosmander, protegendo esta zona da muralha que ocupa a zona mais baixa e também a mais oriental da fortificação, adaptando-a ao desnível do terreno. É uma complexa obra exterior à muralha abaluartada que se projeta desde o Baluarte da Porta Velha. Está composta por um baluarte e dois meios baluartes unida por cortinas à fortificação principal e protegidas nos ângulos por lunetas a ambos os lados. No seu interior apresenta uma ampla praça de armas, utilizada pelo RI8 como campo de futebol, e onde se realizavam os multitudinários juramentos de bandeira dos recrutas.
Ainda dentro da Obra Coroa encontra-se um moinho de vento, que foi uma das formulas de pagamento que Cosmander exigiu à Coroa lusa como recompensa. Como pagamento ao desenho das fortificações da zona raiana, além do seu soldo e regalias, passou a ter o monopólio da moagem de trigo dentro das fortificações por ele desenhadas!
Nunca passaria pela cabeça de Nicolau de Langres e de Cosmander que um grupo de miúdos de bairro, iriam ocupar parte da sua complexa e matemática fortificação com o simples objetivo de construírem o seu “forte” para as brincadeiras de verão!
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