Tem-se falado muito, ultimamente, acerca da educação, com enfoque na avaliação. E ocorreu, por via governamental, uma reforma neste capítulo: altera-se o calendário das provas de avaliação, o que assinala mais um marco na mudança reiterada, e ao que parece sem fim, do momento avaliativo dos saberes dos alunos. Com vários propósitos, bem entendido, quase sempre bem intencionados.
É óbvio que é necessariamente pedagógico que se avaliem os alunos, os professores, o sistema e tudo quanto envolve o processo educacional.
É óbvio que se proceda ao recurso a todos os tipos de avaliação para que não fique nada para trás e que daí resulte o almejado impulso indispensável à aproximação do objetivo primordial: a definição de um trajeto educacional válido para todos, o que significa, para o país.
Parece, no entanto, que as ilações extraídas da avaliação, ou não são verdadeiramente consistentes, ou não temos uma clara consciência delas.
Os mais otimistas afirmam que o sistema está melhor, enquanto os mais moderados afirmam que nem tanto. É certo que todos nós padecemos, quando olhamos para trás, de um fatídico saudosismo.
Os professores com quem falo dizem-me que, neste campo, nem tudo melhorou e há até aqueles que estão convencidos que dantes é que era a sério. “Agora é tudo muito fácil, “soft”, pela rama e qualquer dia não se ensina e não se aprende nada” – dizem-me.
Não me identifico nem com uns nem com outros. Mas pergunto-me de onde virá o desencantamento. E recordo as reuniões de avaliação em que participei às centenas. Do ensino superior universitário à escola primária percorri todos os graus de ensino e em quase todos os momentos de avaliação coletiva surgia a inexorável questão “como estão os nossos alunos?”.
A resposta era sempre a mesma: o ciclo anterior é que era o responsável pelo estado degradativo da escola; “vêm mal preparados”.
Em todos os graus de ensino se culpabiliza o que está imediatamente à esquerda e a quem se passa a arma da incompetência.
Recordo a minha aflição, enquanto professor do ensino primário (de então), primeira classe, não tinha ninguém à minha esquerda a quem passar a espingarda. E o pior de tudo é que todos os meus colegas e eu próprio tínhamos razão: o mal vem de trás e só pára na família: a Escola Primeira.
Em 1992, num colóquio promovido pelo professor Manuel Patrício – o pai da Escola Cultural – lancei as bases do conceito de Escola Primeira. Há quase trinta anos…! Chamaram-se “Indiana Jones”. No entanto, está tudo na mesma e continuamos a discutir, com virginal inconsciência, a avaliação.
Tal como sobre elas refletíamos há quase cinquenta anos…! Acerca dos benefícios (e dos malefícios) da avaliação dizia, há poucos dias, num canal televisivo, o Presidente do Conselho Nacional de Educação: “Os alunos que trazem alguma cultura da família, desenvencilham-se bem nos testes avaliativos”.
Ninguém melhor que ele, do promontório dotado da melhor perspetiva de observação, para nos dizer que é na família que as dificuldades escolares se rebatem. Daí a sabedoria de Napoleão ao afirmar que a educação de uma criança começa vinte anos antes de nascer. Mais ou menos quando nasce um potencial progenitor.
É fatal que os bebés de hoje serão os pais de amanhã. Os problemas e as virtudes da educação são, segundo a napoleónica afirmação, uma questão geracional.
É preciso começar do princípio e esse início tem como maior obstáculo a sua brevidade: Os três primeiros anos, como advoga a neurobiologia e a psicologia do cognitivismo. Tal como sustentei no conceito de Escola Primeira, em 1992…!
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