O carácter deste nosso espaço de comunicação é, na sua essência, alimentado pela circunstância ocasional. Esta tipicidade retira-lhe a feição do sistemático e a observação para que nos apela padece de estruturação organizativa. Em contrapartida, permite-nos observar o alcance que certas medidas educacionais, no momento, podem propiciar ao sistema português da educação.
Perde-se, por um lado, a cadeia reflexiva que as enquadra no cerne do pensamento pedagógico, ganha-se com a força do momento e da actualidade.
Vem esta introdução a propósito da decisão do Ministro da Educação ter declarado há pouco tempo, que o sistema educacional nacional vai alargar, até 2020, o ensino pré-escolar dos 3 aos 5 anos.
Creio que o fará com imposição obrigatória, universal e gratuita. E justifica a decisão pela reconhecida importância que tal escolaridade estigmatiza, positivamente, toda a evolução dos que a ela tiveram acesso. Para toda a vida!
Veio-me à lembrança o sábio Ministro da Educação que revolucionou o sistema escolar português – o professor Veiga Simão que, passados muitos anos sobre a sua profunda e marcante reforma educativa, se deu conta que tudo quanto fez pelo paÃs – e foi singularmente imenso – lhe faltou o rasgo, a oportunidade, ou a viabilidade de ser o autor da mais profÃcua e notável reforma educacional, aquela que o actual Ministro se propõe a levar a cabo.
Estou plenamente convencido que o actual Ministro da Educação – que pode não fazer mais nada durante o seu ministério em prol de Portugal – há-de ter um lugar destacado, por mérito, na história do ensino nacional, por ter percebido quais são os alicerces que sustentam e definem os edifÃcios, tal como os primeiros anos de vida moldam e projectam toda uma existência.
Quando falamos em reformas educativas focamo-nos sempre no ensino médio, raramente no ensino superior e quase nunca no ensino básico. Isto é, no meio é que está a virtude, como diz a máxima latina. Talvez seja acertado no plano moral, na construção de caracteres comedidos e auto-controlados. Mas não é no domÃnio da educação. Aqui, a virtude (a força, a solidez, a qualidade) está nos extremos: nos aprendentes infantis e na qualidade dos mestres que as universidades preparam.
Estou, igualmente, plenamente convencido que um dia – talvez daqui a vinte ou trinta anos – o actual Ministro da Educação venha a reconhecer e a confessar que apesar de tudo quanto fez pelo ensino infantil – e à semelhança do que aconteceu com Veiga Simão – não acertou no alvo: a educação nos três primeiros anos de vida. E a este propósito ouvimos recentemente uma recomendação da Ordem dos Médicos em que aconselham os governantes a intervir na flexibilização do trabalho dos pais com filhos de menos de três anos.
Há vinte e quatro anos atrás tive esta conversa com o Ministro da Educação da altura. E tudo está na mesma.
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