A Associação Cultural, “UMCOLETIVO”, fundada em 2013 e que tem direção de Cátia Terrinca já passou a desenvolver a sua atividade artÃstica na cidade de Portalegre.
É no Teatro da capital de distrito, que desde julho passado, os artistas que integram esta associação passaram a desenvolver os seus ensaios diários para a preparação da peça “Má Sorte”, que estreia esta semana no Festival Internacional de Teatro de Setúbal.
Por não ter existido entendimento com o municÃpio de Elvas, a UMCOLETIVO encontrou em Portalegre uma autarquia que lhe abriu portas e proporcionou condições para concretizar um trabalho “sério e profissional”, segundo a artista.


“Nós temos, neste momento, a cedência de um espaço por parte do municÃpio de Portalegre que nos permite trabalhar com outro rigor e outras condições, uma vez que é um Teatro e nós podemos lá trabalhar dentro daquilo que é a normalidade da prática teatral, com ensaios diários. Isso é uma cedência que nos permite um trabalho mais rigoroso, para além de termos apoio financeiro por parte do Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre e estarmos a desenvolver parcerias com as escolas”, justificou Cátia Terrinca.
A artista que trouxe para Elvas alguns dos mais importantes projetos culturais dos últimos anos, não poupa nas crÃticas ao atual executivo camarário elvense, acusando-o de “iliteracia cultural” e “falta de profissionalismo”.
A UMCOLETIVO chegou a Elvas há cerca de sete anos, tendo criado o projeto “Casa Tangente” e o Festival Assalto – Tomada ArtÃstica da Cidade de Elvas, entre muitos outros, trazendo a Elvas dezenas de artistas e levando o nome de Elvas a todos os palcos nacionais e internacionais que pisou, desde então.
A UMCOLETIVO vem desenvolvendo parcerias com instituições de renome a nÃvel nacional , como o Teatro Nacional D. Maria II, o Teatro São LuÃs, a RTP e a Antena 2.
De algum tempo a esta parte, vê-se na circunstância de não obter respostas por parte da autarquia de Elvas para a implementação dos seus projetos artÃsticos o que leva à insustentabilidade da sua permanência em Elvas, de acordo com Cátia Terrinca.
“Não temos condições para continuar”


“Neste momento, não temos condições para continuar, porque o dinheiro pode vir de vários sÃtios e as falhas financeiras podem ser colmatadas por outros projetos e outros apoios, subsÃdios e parceiros, mas há respostas das quais nós precisamos e só dependem do municÃpio”, esclareceu Cátia Terrinca.
A mesma responsável especifica o argumento e enumera: “aquilo a que se chama o apoio logÃstico, relação de confiança e franqueza que nós temos vindo a construir e construÃmos ao longo dos últimos sete anos, onde havia franqueza e havia, na minha perspetiva, a construção de um projeto cultural e artÃstico para a cidade, da qual nós fazÃamos parte junto com outros interlocutores, com a AIAR com o Museu de Arte Contemporânea e com outras associações, neste momento, penso que essa relação de confiança está absolutamente quebrada”, referiu .
“Falta de profissionalismo com que o municÃpio de Elvas tem encarado o trabalho da cultura”


De acordo com a artista, o canal de comunicação com a Câmara não existe.
“O que antigamente eram contactos rápidos, através de e-mail, reuniões e/ou chamadas telefónicas que resolviam os problemas no terreno, neste momento é tudo muito moroso e deparamo-nos com um nÃvel de iliteracia cultural bastante grande e que tem impossibilitado o normal progresso do trabalho e, como eu, enquanto cidadã e artista o que quero é crescer, entendo que os objetivos da associação (trabalho rigoroso, sustentado, corrigir as assimetrias graves que existem no acesso à cultural), não são compatÃveis com a falta de profissionalismo com que o municÃpio de Elvas tem encarado o trabalho da cultura”.
No passado fim de semana, a UMCOLETIVO realizou uma versão mais curta do Festival A SALTO: SOBRESSALTO, como um pronúncio do fim de uma era cultural em Elvas.
“O A Salto morreu (…) recebemos mais de 300 artistas”


fotografia por Susana Chicó
“Ainda que queiramos celebrar, precisamos de o fazer com a honestidade de quem conta uma história enviesada. O A Salto morreu, viva o A Salto! Foram meia dúzia de anos movidos pela utopia de um mundo melhor, através e com as artes contemporâneas: celebrando a diversidade e a fragilidade do amor. Fintámos o interior, oferecendo os nossos corações – era a única forma de não estarmos sós. Durante estes seis anos, recebemos mais de 300 artistas, com quem nos sentámos à mesma mesa, sob a batuta-de-pau da Vitorica. Corremos a cidade e, como se cada projeto fosse uma árvore, não nos cansámos de plantar. Por toda a parte da cidade e nos corações dos elvenses, plantámos árvores. Vindas de Cabo Verde, dos EUA, de Israel, do México, da Polónia, do Japão, de Espanha, de França, do Brasil, de Portugal (…) A cidade de Elvas terá, eventualmente, sido tomada”.


Apesar de considerar que existe um conjunto de pessoas que quer a permanência do Festival e do trabalho artÃstico da UMCOLETIVO em Elvas, Cátia Terrinca reconhece que a legitimidade dessa decisão cabe à autarquia.
“Quem representa a comunidade é a Câmara. Portanto, é a Câmara que deve manifestar ou não interesse num projeto. Nós estamos de portas abertas para falar sobre aquilo que o municÃpio quiser falar connosco, mas com dignidade”, adverte.


A associação UMCOLETIVO, neste momento, é constituÃda por quatro colaboradores:
“O João Nunes é formado em cinema e, neste caso, trabalha também como desenhador de luz; uma estagiária, Raquel Pedro e dois trabalhadores a recibo verdes, que estão muitas vezes associados à estrutura e não têm contrato que sou eu (Cátia Terrinca) e o David Costa (designer e colaborador da produção). A cada projeto movimentamos um número variável, entre as sete e as 30 pessoas, para a realização de qualquer evento”, explicou.


A ligação da UMCOLETIVO a Elvas ainda não se extingui totalmente.
“Nós vamos continuar a trabalhar na escola de Vila Boim, no Agrupamento de Escolas, uma vez que temos um apoio especifico da Gulbenkian , De La Caixa, que se chama “Art for Change”, portanto nós vamos continuar vinculados especificamente a Vila Boim, no concelho de Elvas a fazer o trabalho com a escola. No entanto, o nosso trabalho de criação e programação não passará por Elvas”.
SOBRE A UMCOLETIVO:


UMCOLETIVO é uma associação cultural, fundada em 2013, que desenvolve atividades no âmbito da criação artÃstica, tendo como eixos essenciais o teatro, a performance e a palavra- onde transversalmente se encontra uma ideia de reescrita, de tempo real e de voz.
​A estrutura desenvolveu uma forte relação com Elvas, local onde esteve sediada e território de implementação da maioria das atividades.
A relação com o território e com as suas caracterÃsticas especÃficas – a sua condição marginal face aos grandes centros urbanos, a sua condição fronteiriça e a utilização quotidiana de duas lÃnguas distintas: o português e o castelhano – determinaram a sua programação e refletiram a intenção de experimentar e esbater fronteiras em diferentes áreas artÃsticas, explorando a criação de objetos interdisciplinares.
Apresentou uma programação baseada na ideia de construção de vias de reciprocidade artÃstica e afetiva, dentro do território e entre territórios, estruturante no desenvolvimento de uma estratégia de formação de públicos e na programação regular de três iniciativas:
Festival A Salto – Tomada ArtÃstica da Cidade de Elvas
CAL – Cinema. Ar. Livre.
ACTO – A Festa do Teatro em Elvas (com direção artÃstica  UMCOLETIVO)Â
TRANSMISSÃO – ciclo de teatro do imaginário
Das criações apresentadas destacam-se:
Tempestade (2019 – convite do CCB – Fábrica das Artes)
CARTAS (2018 – a partir das cartas de Maria Helena Vilhena a AmÃlcar Cabral),
Três Irmãs (2016 – prémios TIME OUT Lisboa Melhor Espetáculo e Melhor Atriz);
Escuridão Bonita (2014 – coprodução com o MOTIM – Mostra Internacional de Teatro para a Infância de Mindelo/Cabo Verde)
Inércia (2015 – a partir do texto inédito de Fernando Pessoa).
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