ActualCláudia PachecoOpinião
1 Fevereiro, 2018

Sobre erros ortográficos e outras questões afins

É uma vergonha da qual não me envergonho assim tanto, deveria? Pode parecer desculpa, e por vezes será, mas os iPads, iPhones, smartphones e afins corrigem automaticamente.

Caros leitores, este texto não é escrito por uma professora de português, nem por nenhuma entendida nessas matérias, não é um texto em defesa da nossa linda língua, nem tão pouco uma crítica à forma como vamos escrevendo nesta era das novas tecnologias.

Se um amigo meu, com quem falo regularmente por Messenger e por WhatsApp, lesse o que aqui escrevo, certamente diria: “Que atrevimento!”. Ele que passa a vida a corrigir-me…
Sou da área das humanidades, com mestrado e doutoramento na área da comunicação, sou professora e dou erros (falta esta nota na minha biografia).

É uma vergonha da qual não me envergonho assim tanto, deveria? Pode parecer desculpa, e por vezes será, mas os iPads, iPhones, smartphones e afins corrigem automaticamente, e muitas vezes mal, aquilo que vamos escrevendo, ou então, dão-nos opções de escolha nuns quadradinhos quaisquer. Invariavelmente escolho o do meio, reparem, não chego a escrever. E depois nem sequer releio a mensagem, de lá vem sempre a palavra corrigida.

Não explico ao meu amigo o que não tem explicação, tal como não expliquei um dia aos meus colegas, quando estes levaram boa parte de uma reunião a corrigir uma ata escrita por mim, que aquilo era simplesmente um rascunho. Foi uma vergonha da qual não me envergonho assim tanto, tinha na altura outras preocupações e muita pressa de viver, as preocupações mantêm-se e a pressa de viver também.

Contudo, não posso deixar de partilhar convosco a ideia de que todos somos permanentemente produtores de conteúdos, os chamados “prosumers”, e não devemos escrever com esta displicência num espaço que é público, como as redes sociais. Pela minha parte faço um “mea culpa” e assisto de perto a esta realidade incontornável: o imediatismo imposto pelos novos media e pelas (eternamente) novas tecnologias da informação está a mudar definitivamente a nossa forma de comunicar, a par da exigência cada vez menor connosco próprios e com a forma como nos expressamos.

Agradeço, deste modo, o preciosismo do meu amigo, tal como agradeço a outra amiga que me confidenciou ter acabado com o namorado por ele não saber escrever, não lhe disse na altura, mas aquilo fez-me pensar que há situações e pessoas que não nos estão destinadas, e ainda bem. Em matéria de linguagem do Amor também andamos a nivelar por baixo.
(Pelo sim e pelo não, vou pedir a revisão deste texto por respeito a todos os leitores, por respeito ao meu amigo Pedro e, sobretudo, por respeito a mim própria).

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