ActualAna CamachoOpinião
31 Janeiro, 2018

Coroas e amarguras

Fico muito feliz por ser alguém da terra. Por ser uma "miúda" que arregaçou as mangas e se fez à estrada. Por estar a crescer profissionalmente.

Enquanto esperava pelo meu filho à porta da escola e trocava dois dedos de conversa com uma outra mãe, fico a saber que ela visitou o Carnaval Internacional de Elvas o ano passado e que este ano se prepara para o fazer, novamente, com pelo menos mais dois casais com crianças.

Disse-me num tom afável e sem qualquer ironia, que de uma cidade tão pequena saiu tanta gente famosa. Em momento algum me disse que o X é isto, que o Y só é Y por ser irmão do X, que a B só é quem é porque casou com A…

Resumindo, somos sempre demasiado exigentes, muito pouco condescendentes e até maldosos com os nossos. Quando me refiro aos nossos, refiro-me à escolha para carregar a coroa neste Carnaval.

Fico muito feliz por ser alguém da terra. Por ser uma “miúda” que arregaçou as mangas e se fez à estrada. Por estar a crescer profissionalmente. Pelo sotaque que mantém. Pelo sorriso e gargalhadas que partilha com o mundo. Por ser filha. Mãe. Esposa. Por ser das minhas. Lá da minha terra.

Fico feliz porque uma “miúda” lá da terra brilha. Não porque casou, com quem casou, fez e aconteceu… É lá da terra, caramba! Que me importa a mim a vida da pequena? Não tenciono pagar as contas dela nem ela as minhas. Que me importa a mim com quem casou? E daí? Até podia casar com o Brad Pitt que continuava a ser lá da terra.

Então não é motivo de orgulho ter uma conterrânea a dar que falar por aí? Não é? E ainda mais porque dá que falar por bons motivos! Gostando mais ou menos daquilo que faz profissionalmente, porque a vida pessoal a mim nada importa, estou orgulhosa por ela. Como estou por outros que por aí andam a brilhar e que carregam o nome lá da terra por esse país fora.

O que entristece é que continuamos com aquele velho e pesado hábito de gostar mais da galinha da vizinha. Continuamos a deitar abaixo aquilo que é nosso.

Não é a rainha ou rei que queriam? E então? Só por isso vamos lá esquecer que a miúda já é mãe, tem família, amigos e “cascar” todos nela. Fazemos muito melhor figura!

Para mim, e em jeito de remate, o melhor Rei de sempre foi o Ruca. O que fez mais sentido. Duvido que volte a ter tanto orgulho em alguém que carregue aquela coroa. Este ano é o ano da Joana. Coroas e amarguras à parte, parabéns miúda lá da terra!

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