ActualMiguel AntunesOpinião
13 Janeiro, 2018

As Princesas em Elvas

Se não te chega a imaginação sempre resta o museu dos coches, em Lisboa, onde ainda podemos observar algumas das carruagens que estiveram em Elvas nesses dias.

A 19 de janeiro de 1729 realiza-se, numa ponte sobre as águas do rio Caia, a trocas das princesas, um episódio único na história peninsular, e que foi o culminar de muitos anos de preparação e que selou a paz entre as duas nações ibéricas.

Acordada a paz entre os dois reinos, em 1727, a forma encontrada pelos diplomatas passaria uma vez mais pela união matrimonial dos príncipes e princesas dos dois lados do Caia, como garantia de estabilidade. Ao futuro D. José I caberia enlaçar-se com D. Mariana Vitória, filha de D. Filipe V, enquanto a sua irmã, D. Barbara, rumaria para a corte espanhola casando-se com o herdeiro ao trono espanhol, o depois Fernando VI. Tais enlaces foram celebrados por procuração nas respetivas cortes em 1728 com grandes festas e arraiais.

Mas o acontecimento da troca das princesas fez-se esperar vários meses até às auroras de 1729, sendo tudo preparado a consciência, e com a maior pompa e circunstância que as cortes ricas e barrocas de Portugal e Espanha puderam dar a este ato.

A comitiva portuguesa foi à época um importante movimento de pessoas e mercadorias, possibilitando todas as comodidades e requinte ao cortejo régio. Foram utilizados os coches que tinham sido enviados ao Papa por D. João V e outros feitos em exclusivo para esta excursão real, no total 20 coches, 231 seges, 1200 cavalos, 300 machos e mulas e 35 cavalos reais, acompanhados por 6 mil soldados e pessoal de serviço.

Em Elvas a receção à comitiva real, procedente de Vila Viçosa, faz-se com a ornamentação e construção de três arcos triunfais nas ruas de Olivença, Carreira e na já desaparecida porta da praça, estando todas as varandas e sacadas cobertas por sedas e o chão forrado de verduras. Estas construções efémeras testemunharam a passagem das cabeças reais até à catedral elvense, onde o cabido, na ausência à data de bispo titular na diocese, esperava a comitiva para a celebração de Te-Deum de ação de graças. D. João V chega a Elvas no dia 16 e terá que esperar pelos ensaios e negociações finais que tardariam até ao dia 19, data da entrega da princesa lusa e de receber a futura rainha de Portugal.

Foi precisamente no Paço Episcopal que se alojou D. João V ao longo dos 12 dias que permaneceu na cidade para a Troca das Princesas no Caia, tendo lugar ao longo desses dias várias festividades, caçadas, fogos de artifício e missas solenes, sendo pedido a participação do povo que certamente apreciava a presença do rico do rei luso entre as muralhas da cidade.

Basta imaginar-se um peão do povo, que depois de na noite anterior ter participado na luminária tendo colocado na sua janela, conforme ordem expressa da Câmara, uma vela, sobe agora a rua em direção à praça nova, hoje da república, para ver as carruagens reais, e ver de boquiaberta o esplendor destas obras de arte móveis. Se não te chega a imaginação sempre resta o museu dos coches, em Lisboa, onde ainda podemos observar algumas das carruagens que estiveram em Elvas nesses dias.

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