Fundado a 18 de agosto de 1975 por Pompilio Rodrigues e a sua esposa Sofia, o Restaurante Pompilio assinala meio século de vida como referência incontornável da gastronomia alentejana. Nascido de uma pequena tasca, tornou-se destino obrigatório para apreciadores da cozinha tradicional, preservando receitas e memórias que atravessam gerações.
“O General Ramalho Eanes adorava o meu arroz de lebre”
Sofia


Sofia, que continua a acompanhar de perto o dia-a-dia da casa, recorda: “Comecei num canto desta casa a cozinhar e hoje o Pompilio está nas bocas do país”. Orgulhosa do percurso dos filhos, acrescenta: “Eles são os grandes homens. Temos uma casa com muito boa fama”. Entre os pratos que mais gostava de preparar, destaca o arroz de miúdos e marisco e as migas com entrecosto, como uma das grandes preferências dos clientes, uma receita que permanece inalterada desde os primeiros tempos. Recorda também, com carinho, que o General Ramalho Eanes era cliente habitual e apreciava particularmente o seu arroz de lebre.
“O meu pai e a minha mãe construíram este património com muito trabalho e amor”
Manuel João Rodrigues


O filho mais velho, Manel João Rodrigues, prestes a completar 60 anos, recua às origens: “O pai começou nas Termas de Cabeça de Vide com um pequeno bar de frangos assados. Eu e o meu irmão Rui tínhamos 6 ou 7 anos. Depois comprou esta casa, porque os meus avós paternos viveram aqui perto numa quinta, e começou como café e pequena tasca”. Ainda a estudar em Elvas, os filhos ajudavam aos fins de semana, enquanto Sofia conquistava clientes com pratos de caça, sopas tradicionais e migas.
Entre as memórias mais vivas, estão as matanças do porco, os enchidos caseiros e as noites passadas a preparar caça com vizinhos e amigos.
Para Manel João, a união familiar e a dedicação são o segredo do sucesso. A esposa, Ilda, chefe de cozinha, mantém as receitas e técnicas da sogra, garantindo um “padrão de qualidade intocável” que atrai clientes de todo o país e do estrangeiro. Sobre o futuro, anuncia um investimento superior a 200 mil euros, ao abrigo do programa Portugal 2030, para melhorar as instalações: “Os olhos também comem”, afirma, destacando a criação de uma garrafeira e a renovação das casas de banho, decoração, mantendo intacta a essência gastronómica.


Para Manel João, o pai foi sempre “um homem que quis juntar a família, com ideias fantásticas e uma capacidade de gestão brutal”. Define-o como “uma pessoa muito engraçada, que falava com os clientes de forma carinhosa e que todos adoravam”. Recorda que, quando questionado sobre porque não trazia os frangos assados para São Vicente, o pai respondeu que queria fazer “uma coisa diferente” e decidiu apostar na cozinha típica alentejana, decisão que moldou o futuro do restaurante. “O meu pai e a minha mãe construíram este património com muito trabalho e amor”, sublinha.
Manuel João lembra que “o pai foi sempre um homem de família, de fazer festas e ter os amigos por perto. Seria uma alegria imensa para ele estar aqui nestes 50 anos, porém temos a certeza que estará muito orgulhoso do nosso trabalho e a aplaudir-nos”.
“Os nossos colaboradores vestem a camisola Pompilio e honram-na todos os dias com o seu trabalho.”
Rui Rodrigues


Rui Rodrigues, também gestor do restaurante, guarda igualmente uma imagem muito viva do pai: “Era uma pessoa extraordinária, bondosa, que gostava de ajudar o próximo. Ao longo de 50 anos, nem um sem-abrigo que passou por aqui ficou com fome”. Lembra-o como “um homem carismático ao balcão, sempre com uma piada pronta, que nunca precisou de nos pedir união, porque sabia que o seu trabalho estava bem entregue”. Para Rui, o legado do pai é mais do que o restaurante: é um exemplo de vida e de valores.
Rui destaca ainda que alguns pratos permanecem na carta desde o primeiro dia: “As iscas de vitela, os pezinhos de coentrada e as migas com entrecosto nunca saíram. Quando passámos a restaurante, juntámos o bacalhau dourado, o arroz de marisco e as costeletas de borrego panadas, que ficaram para sempre”. Faz questão de enaltecer colaboradores que, à semelhança da família, fazem parte da história do Pompilio: Ilda Rodrigues, esposa de Manel João, há 32 anos na cozinha; Arlete, com mais de 30 anos de casa; e Rosário, recentemente reformada. Hoje, a equipa conta com 14 elementos, um crescimento notável face ao núcleo familiar que iniciou o projeto.
“O pai era um homem carismático ao balcão, sempre com uma piada pronta, que nunca precisou de nos pedir união, porque sabia que o seu trabalho estava bem entregue”, recorda.
Quanto à marca Pompilio, Rui define-a como sendo representativa da “humildade, talento, trabalho e muito esforço”, ao mesmo tempo que agradece aos clientes: “Temos clientes de há 50 anos que hoje são também amigos. O cliente é tudo para nós”. Sobre o pai, recorda a sua figura carismática ao balcão, sempre com uma piada e um gesto solidário: “Nem um sem-abrigo passou fome em São Vicente enquanto ele viveu”.
“As pessoas vêm com expectativas muito altas”
Ilda Rodrigues


Ilda Rodrigues, nora de Sofia e chefe de cozinha, partilha que “é um trabalho feito com gosto e em família, mas com grande responsabilidade, porque as pessoas vêm com expectativas muito altas”. Aprendeu a cozinhar com a sogra, a quem reconhece um papel determinante: “A Sofia foi uma excelente mestra, uma mulher de trabalho que, junto com o meu sogro Pompilio, levou esta casa ao que é hoje. A essência tem de permanecer como há 50 anos”.
“O meu avô era um homem com H grande”
Pedro Rodrigues


A nova geração também cresceu com a presença do patriarca. Pedro Rodrigues, filho de Rui e neto de Pompilio, hoje com 23 anos, recorda: “O meu avô era um homem com H grande. Amava a família, acordava cedo para vir para o restaurante, sempre com piadas no balcão, e tratava os clientes com muito carinho, tal como tratava os netos”. Lembra-o como “uma inspiração” e afirma ter aprendido com ele que “o caminho faz-se devagar e sem esquecer a origem”. Sobre a avó, recorda os arrozes que preparava com uma mão especial ao fogão com os barros: “Era carinho e amor, e isso fez com que esta casa fosse o que é hoje”.
Licenciado em Gestão de Recursos Humanos, Pedro vê como desafio aplicar os conhecimentos à realidade da empresa familiar: “Uma empresa pequena é diferente do que aprendemos na faculdade, mas quero melhorar o dia-a-dia de quem aqui trabalha e manter a tradição do primeiro dia”. Para os próximos 10 ou 20 anos, deseja que “o pai e o tio continuem a ser o rosto da marca e que o avô esteja sempre presente, ajustando-nos às novas tendências, mas sem nunca perder a essência da nossa cozinha e do nosso Alentejo”.
Cinco décadas depois, o Restaurante Pompílio mantém-se fiel ao seu propósito: servir pratos que preservam a autenticidade, o sabor e o espírito da cozinha alentejana, honrando todos os dias o legado de Pompilio Rodrigues com a mesma dedicação, união familiar e hospitalidade que conquistaram gerações de clientes.


Pompílio Rodrigues (1932-2015)
O homem que fez do sabor uma herança de família
- Nascimento: 1932
- Falecimento: 2015, aos 83 anos
- Fundador do Restaurante Pompílio (1975), juntamente com a esposa Sofia Rodrigues.
Frases que o definem:
“Era um homem com H grande.” — Pedro Rodrigues, neto
“Um gestor brutal e uma mãe trabalhadora: foi assim que construíram este património.” — Manel João Rodrigues, filho
“Os nossos colaboradores vestem a camisola Pompilio e honram-na todos os dias com o seu trabalho.” — Rui Rodrigues, filho
Traços marcantes
- Figura carismática ao balcão, sempre com uma anedota e um sorriso.
- Homem de família, valorizava a união e a amizade.
- Espírito solidário, ajudava discretamente quem mais precisava.
- Visão estratégica: optou por diferenciar o restaurante através da cozinha alentejana, em vez de competir com pratos comuns na região.
Legado
Cinquenta anos depois da abertura da casa, os filhos e netos continuam a gerir o Restaurante Pompílio, mantendo receitas, tradições e o mesmo padrão de qualidade que fez a fama do espaço.


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