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24 Junho, 2023

“Brava. Brava até ao fim”. A emocionante despedida da filha de Paula Calado

Sempre te imaginei velhinha (com cem anos, pelo menos), rodeada de netos, talvez bisnetos, a ler infinitos livros à lareira e a fumar o teu cigarro à varanda depois de jantar.

Hoje, penso na forma brutal e inesperada como partiste, nos tão desejados netos que um dia virão e que não vais conhecer, nas viagens que já não faremos as duas, nas longas conversas que não acontecerão mais e no conforto da tua voz, único colo capaz de me apaziguar a alma. E, agora, mãe?

Penso também em como tudo se tornava incrível quando estavas feliz. Uma sobremesa assim-assim transformava-se na “melhor sobremesa do mundo”. Um concerto que adorasses era sempre “um dos melhores que já assisti na vida ou quiçá o melhor de todos”. Eras assim, colecionadora profissional de momentos épicos, ninja a aproveitar o presente, detentora de uma sede de viver como nunca vi e na qual me revejo.

A vida para ti só tinha sentido se nos dedicássemos a missões pelas quais lutar e – mesmo que a tua primeiríssima missão sempre tenha sido amar-me – foi sob esse lema que viveste também na tua esfera profissional enquanto professora e política: avessa a escolher o caminho mais fácil ou mais esperado, pendias sempre para o que acreditavas ser o mais certo, mesmo que isso te trouxesse dissabores. Brava. Brava até ao fim.

Traçaste e percorreste o teu trajeto com força, resiliência e, acima de tudo, liberdade. Nem todos os que passam por aqui podem dizer isso, mãe, mas tu podes.

Tenho um imenso orgulho em ti. Que sorte a minha em ser tua filha, a única, e herdar essa fibra no sangue que honrarei até ao fim dos meus dias e que espero perpetuar.

Amo-te muito, minha querida e adorada mãe, meu primeiro grande amor. Prometo que os que vierem depois de nós vão saber quem foste.

Viverás sempre em mim, em cada célula do meu ser, até que chegue a minha hora.

Nota: A minha mãe partiu hoje, rodeada da família mais próxima, de mão dada comigo até ao último instante. Agradecemos à equipa hercúlea do Hospital de S. José, em Lisboa, que de tudo fez para a salvar. Agradecemos a todos os que manifestaram a sua preocupação nestas horas de profunda agonia.

Sara Fevereiro

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e a sorrir

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