O cenário político no concelho de Elvas mantém-se em aberto após as eleições autárquicas que deram a vitória a Rondão Almeida, do Movimento Cívico Por Elvas (MCPE), que conquistou a presidência da Câmara Municipal.
Rondão contará, à partida, com o seu vice-presidente, Hermenegildo Rodrigues, também eleito pelo MCPE. A vereação completa-se com dois eleitos pelo Chega – José Eurico Malhado e Elsa Dourado -, dois eleitos pelo Partido Socialista – Nuno Mocinha e Sérgio Ventura -, e uma eleita pela Aliança Democrática (PSD-CDS-PP), Margarida Coelho Paiva.
Perante uma câmara fragmentada, Rondão Almeida tem vindo a realizar uma ronda de conversações com os restantes eleitos, procurando garantir estabilidade política à frente dos destinos do município. As negociações, conduzidas de forma reservada, deverão ser conhecidas publicamente no início da próxima semana.
Enquanto isso, e sem que haja ainda uma decisão conhecida sobre possíveis entendimentos, a futura vereadora da Aliança Democrática, Margarida Coelho Paiva, publicou nas suas redes sociais um texto a que intitulou “Os Vendilhões do Templo”, onde reflete sobre o momento político e lança um apelo à integridade dos eleitos.
“Durante a caminhada eleitoral fui acusada de falta de ambição política por afirmar, no dia 6 de outubro, que jamais venderia os meus princípios, nem por uma vice-presidência”, começa por escrever a autarca.
“Naquele momento, poucos compreenderam que não se tratava de renúncia à ambição, mas sim de uma mensagem clara, estratégica e antecipatória: se não vencesse as eleições, como de facto aconteceu, alguém, ao contrário de mim, acabaria por trocar os seus valores por um cargo. Infelizmente, foi exatamente isso que se confirmou.”
Margarida Paiva considera que Elvas tinha “diante de si uma oportunidade rara” de promover “crescimento, reposicionamento no mapa político e uma governação plural”, salientando que “cinco vereadores da oposição, quatro forças políticas distintas, todas com ideias e propostas valiosas, poderiam convergir para um projeto comum: o melhor para Elvas”.
No entanto, acusa, “esse caminho foi traído”.
“E não venham falar de acordos de governação, porque nem eu, nem quem conhece esta realidade, acredita que a cidade, mantendo-se neste rumo, irá prosperar. O que nos espera são mais quatro anos de estagnação, de submissão a quem, por mais que tenha feito no passado, hoje está ultrapassado, desatualizado e sem visão para o futuro.”
A futura vereadora da AD reconhece o mérito eleitoral de Rondão Almeida: “soube convencer o eleitorado, e por isso é o Presidente da Câmara”, mas critica o papel dos restantes eleitos:
“Serão figurantes, obedientes e sem voz. E se tiverem ideias, terão de guardá-las no bolso.”
Num tom determinado, Paiva reafirma o compromisso com os eleitores e com a cidade:
“Eu, por minha parte, estarei firme. Na defesa de Elvas. Na exigência de mais para Elvas. Na exigência de mais e muito melhor para Elvas. E na esperança de que, em breve, todos vejam o que hoje já consigo antever e que num futuro próximo premeiem os vendilhões com o templo que merecem.”
No post scriptum do texto, Margarida Paiva relata o momento em que decidiu escrever:
“Escrevi estas palavras na passada quarta-feira, pouco depois de receber um telefonema que me deixou em choque: “Prepara-te, vais ficar sozinha. Todos se vendem…” Não queria acreditar. Mas no auge da minha indignação, decidi fazer o que sempre faço: preparar-me para todos os cenários, mesmo os mais injustos.”
E termina com um apelo dirigido a todos os eleitos do concelho:
“Lembrem-se do que prometeram a Elvas. Lembrem-se das pessoas que acreditaram em vocês, que votaram com esperança de ver mais e melhor. Cada voto é um compromisso. Cada mandato, uma responsabilidade. Não traiam essa confiança. Não traiam Elvas.
E, parafraseando o Principezinho: ‘Somos responsáveis por quem cativamos’.”
As palavras de Margarida Paiva surgem num momento de incerteza sobre a composição do futuro executivo municipal. Com um quadro político fragmentado, Rondão Almeida precisa de garantir apoios ou entendimentos pontuais para assegurar governabilidade. A posição da eleita da Aliança Democrática parece, contudo, afastar qualquer hipótese de participação formal num eventual acordo de governação com o movimento Por Elvas, como sempre garantiu que faria.
A expectativa recai agora sobre o anúncio que o presidente da Câmara deverá fazer no início da próxima semana, revelando o resultado das negociações com as restantes forças políticas.
Recorde-se que a tomada de posse para a Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Elvas está agendada para a próxima sexta-feira, dia 31 outubro, às 18 horas, no Centro de Negócios Transfronteiriço da cidade.












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