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30 Julho, 2024

EMPATIA: A Vida, a Maternidade do alto dos seus 1,20 de altura

Os filhos começaram a faltar à escola (...) porque Marisa não tinha mobilidade para os levar devido à sua deficiência. “Duvidei de mim mesma quando me questionaram se eu seria capaz de cuidar dos meus filhos sozinha".

Marisa Pinho, uma jovem de vinte e poucos anos anos, carrega nas costas um fardo de dor e sofrimento que poucos podem imaginar.

Nascida no Barreiro sem o membro inferior direito, Marisa enfrentou desafios inimagináveis desde o seu primeiro suspiro. Os problemas de crescimento  toldaram o seu percurso e o 1,20 de altura definiram-na perante o olhar dos outros, desde sempre. 

Para além das evidentes limitações físicas, a falta do afeto e aconchego familiar foi, sem dúvida, a sua maior penalização e fragilidade para enfrentar a sociedade e os olhares desconfortáveis.

Cada dia é uma batalha contra as cruéis adversidades que a vida lhe impôs, deixando-lhe cicatrizes profundas na alma.

Enquanto muitos jovens vivem os seus vinte anos em êxtase, sonhando e explorando o presente com paixão, Marisa viu-se presa numa realidade sombria e cruel. 

Não foi a deficiência física que mais a esmagou, mas sim a discriminação brutal e constante que a sociedade lhe impôs, cortando-lhe as asas e destruindo-lhe os sonhos.

Foi apenas recentemente, depois de anos mergulhada na escuridão, que ela começou a vislumbrar uma ténue luz ao fundo do túnel.

Ao mudar-se para Portalegre, ainda na sua juventude, Marisa encontrou uma realidade ainda mais severa e impiedosa:

“A discriminação começou na escola. Os meus colegas olhavam para mim como se eu fosse uma aberração, como se a minha deficiência me definisse”, recorda Marisa, com um olhar aflito e doloroso.

A exclusão não se limitava aos portões da escola; nas ruas e nos estabelecimentos da cidade, os olhares de reprovação e as palavras cruéis eram um tormento constante, uma tortura silenciosa que lhe corroía o
espírito dia após dia.

A pressão social esmagadora transformou Marisa numa jovem frágil e insegura, sempre assombrada pelos julgamentos dos outros. No entanto, em vez de se deixar vencer, Marisa encontrou uma força interior que não sabia possuir. Determinada a viver uma vida o mais normal possível, formou uma
família e teve três filhos.

Mas, após a separação do companheiro, os desafios tornaram-se insuportáveis. 

Marisa mergulhou num período negro, isolando-se do mundo: 
“Duvidei de mim mesma quando me questionaram se eu seria capaz de cuidar dos meus filhos sozinha. A discriminação fazia-me sentir inútil e inferior”. 

O desespero tomou conta da jovem mãe, e a sua dor era tão profunda que se fechou em casa, incapaz de enfrentar o mundo lá fora. Durante esse tempo, os seus filhos começaram a faltar à escola, não porque não quisessem ir, mas porque Marisa não tinha mobilidade para os levar devido à sua deficiência.

Durante a entrevista, o nervosismo de Marisa esteve sempre presente. A sua revolta contra a vida transparecia em cada palavra, embora tentasse disfarçá-la com um ligeiro sorriso. 

Foi através das redes sociais que Marisa encontrou uma esperança inesperada: o CAVI Portalegre, um programa dedicado a apoiar pessoas com deficiência. 

“No início, hesitei em aceitar a ajuda. Temia ser vista como dependente e fraca.  Mas, ao conhecer melhor o programa, percebi que era muito mais do que imaginava”, explica.

Desde que se juntou ao CAVI, a vida de Marisa sofreu uma transformação extraordinária. Em pouco tempo, conseguiu um emprego e, mais importante ainda, encontrou uma amiga na sua assistente pessoal. 

“Ela não é apenas a minha assistente, é um pilar de força”. Mudou a forma como vejo a minha realidade”, confessa.

Hoje, Marisa encara o futuro com uma esperança renovada. 

“Já não estou sozinha. Tenho uma rede de apoio que me ajuda e encoraja a seguir em frente”, afirma, com confiança. 

E esta mudança refletiu-se também nos seus filhos, que agora veem a mãe como uma verdadeira heroína que nunca desistiu, apesar de todas as adversidades.

Contudo, a dor do passado ainda assombra Marisa, como uma ferida aberta e profunda que custa a cicatrizar, o seu olhar ferido, e o seu sorriso forçado, fazem com que as palavras ganhem um outro significado.

Apesar do passado sofrido e da dor que carrega, Marisa olha em frente com determinação e coragem, pois, sabe que têm que lutar por si e pelo futuro dos seus filhos.

Pois! Como disse no início da entrevista, “o principal objetivo de vida é encontrar a felicidade”.

José Martins

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