Júlio IsidroOpinião
26 Dezembro, 2016

A Tradição ainda é o que era

Mas este é o meu Presépio, o do menino que já não sou.

Sou do tempo em que era o Menino Jesus que trazia as prendas. E do presépio, cuja montagem eu acompanhava, seguindo com atenção o que o meu tio Alfredo fazia.
Ao montar o Presépio este ano, senti nas mãos mais o vez as mesmas figuras que segurava nervosamente :- Dá-me aí o Baltazar mas não deixes cair. Traz o musgo. Põe algodão na cabana.
Sessenta anos depois aqui estão todas elas, para me fazerem recuar ao meu tempo de menino cheio de sonhos, o burro e a vaquinha que jamais serão abatidos, o menino na manjedoura feita de palhas de invólucro de garrafa de champanhe, o soldado romano, um pastor de cajado, uma mulher do povo a ofertar uma cesta de ovos – no Presépio tal como na vida nem todos têm ouro, incenso e mirra- cada um a dar o que tinha, um dorminhoco indiferente ao acto, e até um Zé Povinho, o anacronismo mais sofisticado desta cena bíblica.
O Pai Natal não dorme em palhinhas porque tem um chalet de montanha onde repousa, possui meio de transporte próprio, e veste da cor da etiqueta da bebida mais vendida no mundo.
Com toda esta força mediática a gente vai-se deixando colonizar, primeiro estranhando e depois entranhando.
Mas este é o meu Presépio, o do menino que já não sou.

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