Por tua vontade já tinha morrido. Dá-me vida que preciso de ti para sobreviver! Estou farta de ti, das tuas lamurias, da tua expressão quando falas de mim e das verdades que teimas em converter recorrentemente em mentiras.
Não concebes uma derrota. Entregas-te facilmente, esmurras as mesas, gritas até à exaustão, és de lágrima fácil, insubordinada e arrogante com aqueles que estão dispostos a ajudar-te. Não te quero na minha vida, somos incompatÃveis, mas somos inseparáveis porque habitamos o mesmo corpo. A tua companhia não me serve, irrita-me e começa a ser muito desgastante. Canta, mulher! Tens necessidade de misericórdia. És miserável. Acorda, mulher! O teu mundinho é desprezÃvel. Sorri, mulher!
Julgas que és a única a quem um mal-maior bateu à  porta? Ergue-te mulher!
Ainda te falta percorrer metade do caminho e achas que chegaste ao fim da tua caminhada. Abraça a vida!  Não me mates com esses olhos virados constantemente para o teu umbigo pois tal atitude torna-te na pessoa mais egocêntrica que alguma vez conheci. Ah, se pudesse livrar-me ti, escorraçar-te e viver em paz!
Habitamos o mesmo corpo e, como tal, podÃamos viver em harmonia mas és tão cruel e obsessiva que não permites que isso aconteça.
Não tenho pena de ti mas desejo muito que reflictas nas minhas palavras. Somos uma só e não consigo controlar essa tua insistência em te vitimizares e auto-destruÃres! Luta, luta por nós e por aqueles que nos amam, mulher! Sabes, ainda existem em mim laivos de amor por ti…
Por tua vontade já tinha morrido de desgosto porque, tal não é o teu egoÃsmo, uma Esclerose Múltipla te abocanhou mas exijo que me dês vida que preciso de ti para sobreviver!
Agora, diz-me alguma coisa e não te cales!
Responde-me, mulher!
– Sai tu que não quero nem gosto de falar contigo! Consideras-te melhor que eu?
Irritas-me com as tuas lições de moral. Lembra-te que todos somos diferentes inclusive aqueles que, como dizes, ocupam o mesmo corpo. Não me considero culpada porque decidi viver para sempre contigo. Quando não te sentires confortável em mim, com a meu desânimo ou cobardia tenta fazer como eu e esmurra as mesas, grita e chora até te cansares. Nesses momentos poderás encontrar compreensão e algum conforto que não consigo dar-te porque não sei como fazê-lo.
Não te esqueças, porém, que há uma luz diz que tu e eu somos uma e que para lá de nós, repara bem, há esperança a florescer. Repara!
Foto: Carla Fernandes
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