Este texto surge do muito pouco. Talvez do mistério porque o mistério se faz do muito pouco. Basta relembrar algumas descrições detalhadas e subtis de Arthur Conan Doyle ou Agatha Christie, através dos seus heróis, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, respetivamente. Não é que o mistério deva despoletar qualquer investigação; o mistério é uma busca natural e incessante pelas respostas quanto ao meio que nos rodeia. Holmes e Poirot são bons exemplos, na medida em que são dois observadores inatos.
O privilégio do mistério está ao alcance do bom observador, não está ao alcance do individuo que fala louca e descompassadamente, nem daquele que esbraceja em todas as direções, tampouco daquele que vive numa crise de identidade profunda e amargamente depressiva. Os autores que admiro são essencialmente e primeiro que tudo, bons observadores. Acredito que sejam melhores ouvintes do que falantes e talvez por isso, melhores escritores.
São precisas algumas caraterísticas para conhecer o mistério: primeiro, a sensibilidade; segundo a curiosidade; terceiro a imaginação.
Mas o que é o mistério? É, como se pode ler em alguns dicionários, algo escondido cuja causa não se conhece. Portanto, de acordo com esta definição é tudo o que nos rodeia, mas não nos ocorre em primeira instância, mas que está lá, codificado no ar, em cada rosto, em cada palavra, em cada tudo que é aparentemente nada.
Conhecer o mistério é estar atento a cada sinal, saber interpretá-lo e romanceá-lo. É criar uma narrativa na mente que, sendo verdadeira ou meramente imaginária, nos faz sentir um poder imenso, que se serve da música de fundo como banda sonora e de cada imagem como se de cinema se tratasse.
Eu gosto da palavra mistério. O mistério é um modo de vida perfeitamente conjugável com estados de espírito como o amor, com a alegria ou com a nostalgia. E é feito sobretudo de pequenas coisas. Muitas vezes as mais importantes, as que nos fazem sentir vivos e eternamente inconformados.
Como diria Albert Einstein, “A coisa mais bela que podemos viver é o mistério. O mistério é a fonte de qualquer arte verdadeira e de qualquer ciência. Aquele que desconhece esta emoção, aquele que não para pensar e não se fascina, está como morto. Os seus olhos estão fechados”.
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