“O Perdurável Inventário de Efémeros”, de Yanis Barbacena, pseudónimo de Joaquim Fernando R. Fitas, é o trabalho vencedor da terceira edição do Prémio Literário Hugo Santos, instituído pelo Município de Campo Maior, este ano atribuído na modalidade de conto.
Mais do que um exercício de linguagem, “Perdurável inventário de efémeros” constitui um repositório de afectos e memórias, um estendal de lonjuras que habitam o olhar – de maneira perene –, esculpidas pelo vazio, tecidas pela ausência daqueles que não voltam, mas que permanecem nessa espécie de casa a que convencionámos chamar o coração.
Trata-se, por isso, de um longo poema, ou se quisermos, de uma extensa elegia em torno do que fisicamente se tornou invisível, mas continua a povoar o quotidiano de quem o escreveu, como uma segunda pele, afeiçoada aos domínios da alma e do que ela possui de mais profundo, talvez porque se assemelhe a uma catarse feita de precariedades insondáveis.
Nesse sentido, poder-se-á dizer que pretende bordar na melancolia da penumbra, a miragem das coisas que apenas a beleza da palavra devolve, metamorfoseando o imaginário do irrecuperável, transformando, assim, a efemeridade que caracteriza a vida, em algo que apenas a emoção torna perdurável.
Um livro que recorrendo à argamassa do sentimento e da ternura, fala de nós, dos nossos próximos e dos que atravessando os desertos da sede e planícies de privações, deixaram inscrito no portado das casas onde viveram e nas ruas que percorreram a eternidade das suas tristezas e alegrias, a imensidão dos campos que lavraram, a esperança das searas que semearam. No fundo, a sua marca d’água.
Joaquim Fernando R. Fitas, natural de Campo Maior, verá o seu trabalho publicado em livro numa edição da Câmara Municipal, e receberá um prémio monetário no valor de 1500 Euros, em cerimónia a anunciar oportunamente.
De relembrar que a criação do Prémio Literário Hugo Santos tem por objetivo fomentar o gosto pela leitura e pela escrita, defender e valorizar a língua portuguesa e promover e incentivar a criação literária, mas é também, e sobretudo, uma homenagem ao homem e ao escritor que lhe dá nome.
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