ActualLuís BonixeOpinião
7 Outubro, 2017

Os perdedores das autárquicas e a gestão da informação nos média noticiosos

Com a mesma velocidade com que os média se apressaram a criar espaços de debate sobre o futuro do PSD, também se acomodaram na lógica do Partido Comunista.

E quem diria que umas eleições autárquicas à partida tão mornas pudessem causar tanta agitação na vida política nacional?

A euforia e excitação de Assunção Cristas na noite eleitoral elevaram a comemoração de um segundo lugar a um ponto nunca antes visto. Mas Cristas sabe bem que aquele feito se deve, sobretudo, a um péssimo PSD em Lisboa. E, nem mesmo o PS tem descansado desde a noite eleitoral. Paradoxalmente, os socialistas têm tido pesadelos com aquilo que Jerónimo poderá fazer à “geringonça” para recuperar os votos que perdeu nas autárquicas. Só o Bloco de Esquerda escapou a tanta agitação, mas nem por isso pelas melhores razões. O BE escapou porque é praticamente irrelevante na cena autárquica. Não tinha muito para perder. Não ganhou quase nada.

Mas, há dois perdedores. O PSD e a CDU.

O PSD perdeu, porque não ganhou o que queria ganhar. Não só não ganhou em Lisboa e Porto, como perdeu por números desastrosos nas principais câmaras do país. E a CDU, a terceira força política a nível autárquico, perdeu 10 câmaras. E o que é pior, algumas delas pertenciam-lhe desde sempre no Portugal democrático. De repente, no distrito de Setúbal, já nem todos os gatos são vermelhos, como em tempos lamentava Rosado Fernandes, ex-deputado do CDS.

Mas, se há dois perdedores, os média não parecem refletir isso da mesma maneira. É interessante ver como um e outro se posicionam e gerem as suas derrotas no espaço mediático. PSD e PCP têm estratégias diferentes e lógicas distintas nos média, que acabam por lhes seguir as agendas.

Os sociais democratas, já se sabe, se há poder para disputar, os barões levantam-se. Digladiam-se. Criticam-se. Discutem. Queimam-se candidatos. Arranjam-se logo outros. De repente apareceram nos média 4 ou 5 putativos candidatos à presidência do PSD. E não apenas 4 ou 5, mas também os seus apoiantes. Às dezenas. O PSD alimenta-se do alarido mediático.

No PCP, apesar da derrota. Da maior derrota dos últimos anos, Jerónimo está de pedra e cal. Não há uma voz dentro do partido que se atreva, sequer, a questionar publicamente essa liderança. Pelo contrário. A liderança é reafirmada e há um posicionamento do partido que marca a agenda dos média: “a culpa da nossa derrota é dos outros”. Nem por um segundo, o PCP se atreve a perder o controlo da gestão da informação sobre o próprio partido.

Estas são as estratégias dos partidos. Podemos considerá-las normais, na defesa dos seus interesses. Cada um à sua maneira. Mas, numa altura em que tanto se fala de crise no jornalismo e de profissionais acríticos, soa estranho que os jornalistas sigam estas mesmas estratégias.

Com a mesma velocidade com que os média se apressaram a criar espaços de debate sobre o futuro do PSD, também se acomodaram na lógica do Partido Comunista. Os jornalistas nem resistiram à cacofonia social democrata, nem arriscaram perguntar se a atual liderança comunista estaria em questão por causa dos resultados das autárquicas.

Para o espetáculo mediático, o PSD dá muito mais, sem dúvida alguma (o que não é necessariamente bom!). E eu já tenho lugar reservado no sofá para assistir em direto ao que o congresso laranja nos irá trazer. Quanto ao PC, haverá novidades se, e quando, o partido quiser.

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