Durante os meus saudosos tempos universitários tive um colega de quarto que dividia o seu tempo entre os estudos, namoro e chá. Ao cair da noite lá ia uma chávena quente do seu chazinho ,composto por elementos secretos que faziam com que a nossa imaginação despertasse para uma nova dimensão, era uma receita especial que nos libertava das amarras da realidade e nos soltava para o mundo da ilusão.
Para mim, uma simples chávena era suficiente para me deitar na cama e sonhar com fadas e princesas. Para ele a ceia continuava com uns charrozinhos de erva que enchiam o quarto com um cheiro insuportável. Escusado será dizer que um certo dia correu mal, porque os outros estudantes tinham o olfato suficientemente bom para detetar o cheiro nauseabundo que vinha do nosso dormitório.
Ora, caro leitor fomos os dois expulsos da residência de estudantes: um porque levava o tempo a beber chazinho e a fumar erva ,o outro porque tinha preguiça de ir levar o lixo, imaginem como estava aquele dormitório !


Ora! Perguntam vocês: José porque nos contaste este episódio nauseabundo e asqueroso? Bem, caro leitor, para poder vos falar das presidenciais de 2026.
Tenho a sensação que anda tudo a beber do mesmo chá que eu e o meu querido colega bebíamos, senão como justificar o lixo acumulado de horas televisivas sobre a corrida presidencial? Como justificar o numero de candidatos e de possíveis candidatos ao cargo ? Como explicar que se fale mais de presidenciais que as próximas eleições autárquicas?
Será que temos todos a noção de que o cargo de Presidente da República é apenas representativo e limitado? O presidente não têm os poderes executivos do governo, nem poderes legislativos da Assembleia. A única função do mais alto Chefe de Estado da nação é aprovar ou vetar as leis aprovadas do parlamento, e em caso de veto, a Assembleia pode obrigar o Presidente a promulgar as propostas de legislação.
O Presidente da República é apenas uma figura institucional cujo o único poder de jeito é dissolver a Assembleia e o governo em tempos de crise política .
Anda tudo numa autêntica histeria coletiva ,entre candidatos e possíveis candidatos. Temos figuras apetecíveis, Pedro Santana Lopes por exemplo, é um daqueles casos crónicos na política portuguesa , que nunca está satisfeito com nada e que leva o tempo a sonhar.
O homem já foi primeiro-ministro, autarca, candidato há presidência do PSD, presidente do Sporting, provedor da santa casa, e agora está a pensar em assumir-se como candidato às presidenciais. Santana Lopes têm ar, de vez em quando, de fumar algum tipo de substância recreativa, que faz com que a imaginação se solte. Na cabeça de Santana, ele é uma espécie de D. Sebastião. O problema é que todos sabemos qual foi o destino do jovem rei.
Depois temos outro putativo candidato Marques Mendes, que é uma espécie de copia barata de Marcelo Rebelo de Sousa. Podemos dizer que é a pepsi dos refrigerantes, fez nos últimos anos um percurso semelhante ao atual presidente da República, com vários anos de comentário televisivo aos domingos, mas para ele o problema é que em primeiro lugar não têm o magnetismo de Marcelo, em segundo lugar a televisão já não têm a força de outrora, e em terceiro lugar, o provável candidato do PSD não é amado pelos portugueses, falta-lhe naturalidade, e muito provavelmente, sairá prejudicado pela mais que provável candidatura de Gouveia e Melo.
Gouveia e Melo é uma espécie de Jesus Cristo capaz de transformar agua em vinho. Foi o nosso líder durante a pandemia e sem ele, muito provavelmente, ainda estávamos a decidir o plano de vacinação contra a covid. Também digamos de passagem que não era difícil fazer melhor que Graça Freitas e Marta Temido, qualquer um faz melhor que essas duas magnificas profissionais.
Apesar do percurso implacável de Gouveia e Melo existe uma inquietação que me tira o sono à noite, pois ninguém sabe exatamente o que pensa o almirante sobre o país, nem ninguém sabe de que partido se identifica, nem ninguém sabe se é realmente um democrata, mas o que importa se é a favor da democracia ou não! Afinal ele é um militar e isso é suficiente para convencer o povo português que por norma é um povo muito inteligente, cheio de pessoa com a escola da vida.
Confesso que já estou cansado de escrever sobre este tema tão fascinante que são as presidenciais, sinto- me um pouco como António José Seguro: meio vivo-meio morto, não há muito a dizer sobre Seguro. Basicamente é uma espécie de cadáver politico que já tinha sido enterrado por António Costa, mas que foi desenterrado por Pedro Nuno, que lhe deve ter perguntado: ”Seguro queres concorrer ao cargo mais irrelevante do país? E seguro olhou para ele com aquele espirito de reformado já sem muita vontade :” Eh! Está bem, vamos a isso, também não tenho nada que fazer”.
André Ventura é outra andorinha cuja candidatura é totalmente desnecessária ,irrelevante e até custa a entender. Ao Chega nestas eleições competia-lhe apoiar o almirante, um militar que defende os valores tradicionais como a lei e a ordem. É um erro crasso que Ventura faz em não apoiar o Gouveia e Melo, só irá dividir o eleitorado de direita e de centro de direita, o problema do Chega é que a sua retorica é feita sobre soundsbites do que o povo diz nos cafés. Não existe uma base ideológica definida , não existe um projeto político, e isso, obriga a uma tortura diária para se manter nos holofotes.
Joana Amaral Dias e André Pestana são totalmente irrelevantes nesta corrida. Na minha opinião o ex –lider do stop, sempre foi um oportunista que usou os protestos dos professores para ganhar popularidade e Joana Amaral Dias é uma mulher que caiu no descrédito. Já foi do Bloco de Esquerda e agora está num partido ainda mais radical que o Chega .
E, pronto caro leitor, não existe muito mais a dizer por agora sobre este tema tão interessante, tão fascinante, tão eletrizante que deixa o meu sistema límbico em êxtase.
Bem sei que esperavam uma conclusão à Pacheco Pereira, com um final bem estruturado, com palavras caras tais como “nomenclatura” e que o último parágrafo tivesse um forte significado moral que colocava o leitor a chorar de emoção, no entanto, não sou Pacheco Pereira, sou apenas um jovem recém licenciado que bebe muitos chazinhos especiais e que no auge do devaneio faz boas análises.
Até ao próximo mês caro leitor!
There are no comments for this post yet.
Be the first to comment. Click here.