Lembro-me sempre da última crónica de Mário Mesquita enquanto provedor do leitor do Diário de Notícias, quando afirmou que ao “fim de cinquenta e duas semanas (…) nem um só jornalista da casa – à excepção do Diretor – reconheceu ter escrito uma frase menos feliz, um título pouco rigoroso ou assumiu a responsabilidade por uma investigação insuficientemente aprofundada”
Depois há aquela frase (que de tantas vezes repetida confesso já não saber quem a disse pela primeira vez) segundo a qual “errar é humano, persistir no erro é ser jornalista”.
Há na cultura jornalística um certo receio de admitir publicamente a falha. É paradoxal, pois a profissão de jornalista é praticada sob condições que com facilidade conduzem ao erro. Os jornalistas trabalham sob enorme pressão do tempo: é preciso fechar a edição, entrar já em direto e ter coisas para dizer. Em tempos de precaridade na profissão e de redução de profissionais, aliada à ideia do jornalista-faz-tudo só aumentam as probabilidades do erro. É preciso assumir essa situação e, assumindo-a, lutar contra isso.
Judite de Sousa é uma das jornalistas portuguesas com uma carreira que deve ser sublinhada. Ainda há pouco tempo, propus aos meus alunos que pesquisassem sobre um jornalista que no seu entender tivesse um papel importante na profissão em Portugal. Judite de Sousa não faltou. Ou seja, mesmo para as gerações mais novas, Judite de Sousa continua a ser uma referência.
O erro que Judite de Sousa e a TVI cometeram na cobertura dos incêndios em Pedrógão Grande não foi assumido nem pela jornalista, nem pela própria TVI. O comunicado da estação televisiva é, aliás, lamentável porque coloca os telespectadores numa posição passiva e reduzida à sua condição de audiências. Mas, nos tempos que correm, os telespectadores já não querem ser só isso. São mais conhecedores dos seus direitos e têm à sua disposição ferramentas que lhes permitem actuar criticamente perante aquilo a que assistem, leem ou ouvem.
A TVI e Judite de Sousa não perceberam isso e insistiram numa luta contra os críticos refugiando-se no sucesso audiométrico da estação. Era tão mais simples assumir que, mesmo para uma jornalista tão experiente, aquelas eram condições de reportagem de grande pressão, técnica e psicológica. Seria tão mais fácil à TVI ter dito no comunicado que o trabalho nem sempre corre como desejamos e que aparecer em direto com um cadáver atrás não tem valor informativo rigorosamente nenhum.
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