ActualLuís BonixeOpinião
13 Dezembro, 2017

Afinal, o jornalismo vive

Esta investigação jornalística serve também para demonstrar aos mais incrédulos que na altura certa, é o jornalismo a única arma credível de escrutínio e denúncia pública.

As réplicas do caso Raríssimas são bem o exemplo da eficácia de uma investigação jornalística.

Não tenho visto ondas de protesto contra o trabalho jornalístico em causa e as demissões que se seguiram acabam apenas por confirmar aquilo que o trabalho da TVI denunciou.

É, por isso, interessante que em tempos de Internet e de redes sociais em que (segundo alguns) todos podem ser jornalistas, seja o jornalismo, o velho e por estes dias descredibilizado jornalismo, que venha questionar uma associação que era vista como simpática, com gente simpática e altruísta na sua gestão e em prol de uma causa que todos reconhecemos nobre. Também por isto, a investigação jornalística da TVI é corajosa.

Não confronta os poderes políticos ou económicos, mas questiona a gestão de uma associação que é querida da generalidade dos cidadãos. Um pequeno esforço levar-nos-á a outros exemplos em que os jornalistas acabaram condenados na opinião pública acusados de tudo e mais alguma coisa por terem denunciado casos em que estiveram em causa matérias de âmbito social ou de solidariedade.

Esta investigação jornalística serve também para demonstrar aos mais incrédulos que na altura certa, é o jornalismo a única arma credível de escrutínio e denúncia pública.

Quem passar algum tempo em espaços de debate do jornalismo, com facilidade observa (e cansa-se) de ouvir que o jornalismo está em crise e que tem os dias contados. É bem verdade que os tempos são difíceis, mas não é menos verdade que ainda não foi inventada uma forma melhor para o substituir.

As redes sociais e a ilusória participação livre dos cidadãos nos conteúdos noticiosos não são fórmulas eficazes de confronto e discussão da coisa pública. Muito pelo contrário. Com excepção de alguns bons exemplos, aquilo que os eufóricos das tecnologias apelidam de informação, não passa de desabafos e de meras tentativas de atirar o barro à parede para ver se alguma coisa cola. A “denúncia” nas redes sociais é sobretudo um exercício narcisista e contemplativo em causa própria.

O caso Raríssimas veio prová-lo uma vez mais. O jornalismo, desde que feito de acordo com as regras que norteiam a profissão, confronta, questiona, denuncia, argumenta, prova.

Nas redes sociais apanham-se os cacos e procuram-se julgamentos sumários. Sem critério e sem argumento.

Bem vistas as coisas, é muito ingénuo pensar que o jornalismo está morto!

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