ActualAna CamachoOpinião
18 Janeiro, 2018

A Menina Girassol e o Menino Gota de Chuva

Naquele dia despediram-se. Foram longos meses de avisos e precauções: "Não estás preparada para ir".

Naquele dia despediram-se. Foram longos meses de avisos e precauções.

“Não estás preparada para ir. Não vais conseguir. O mundo pode ser perigoso!” – Dizia ele à amiga que com a alma iluminada e cheia de esperança lhe respondia sempre que queria correr mundo, crescer e viver.

A Aldeia do Poço já não lhe cabia mais. Não depois de lhe terem partido o coração.

Queria ir e voltar. Voltar para contar o que viu, para abraçar a família e amigos.

A Menina Girassol voou. Conheceu pessoas, novos lugares, cheiros. Apaixonou-se e decidiu que era ali, naquele abraço, que iria construir o seu lar.

À Aldeia voltou sempre que podia. Com os olhos cheios de mundo, abraçava os amigos e sussurrava projetos, sonhos e canções.

O Menino Gota de Chuva tinha sempre algo a dizer.

Ora “porque é que demoraste tanto?”, ora “agora já não queres saber de nós”…

As visitas tornaram-se cada vez mais espaçadas mas quando as saudades apertavam, a menina ligava, enviava uma mensagem.

Do outro lado, a cobrança era sempre dissimulada:

– “Estava a ver que nunca mais dizias nada!” – Dizia ele.

-“Mas porque não me vens visitar?” – Perguntou-lhe a Menina um dia.

– “Eu? E eu lá tenho tempo pra perder em viagens?” . Nunca a visitou.

Raras foram as vezes que ligou. Mas cobrava a presença e interesse constantes da Menina Girassol.

Hoje raramente se encontram. Ela continua a viver, cheia de sonhos e esperanças.

Volta e meia contam-lhe que o Menino Gota de Chuva continua cinzento e zangado.

Fica sempre com os olhos rasos de água ao sabê-lo chover.

Mas quando isso acontece roda a saia, abre as janelas e deixa a luz entrar.

A luz do lugar onde escolheu viver…

About this author

0 comments

There are no comments for this post yet.

Be the first to comment. Click here.