Naquele dia despediram-se. Foram longos meses de avisos e precauções.
“Não estás preparada para ir. Não vais conseguir. O mundo pode ser perigoso!” – Dizia ele à amiga que com a alma iluminada e cheia de esperança lhe respondia sempre que queria correr mundo, crescer e viver.
A Aldeia do Poço já não lhe cabia mais. Não depois de lhe terem partido o coração.
Queria ir e voltar. Voltar para contar o que viu, para abraçar a famÃlia e amigos.
A Menina Girassol voou. Conheceu pessoas, novos lugares, cheiros. Apaixonou-se e decidiu que era ali, naquele abraço, que iria construir o seu lar.
À Aldeia voltou sempre que podia. Com os olhos cheios de mundo, abraçava os amigos e sussurrava projetos, sonhos e canções.
O Menino Gota de Chuva tinha sempre algo a dizer.
Ora “porque é que demoraste tanto?”, ora “agora já não queres saber de nós”…
As visitas tornaram-se cada vez mais espaçadas mas quando as saudades apertavam, a menina ligava, enviava uma mensagem.
Do outro lado, a cobrança era sempre dissimulada:
– “Estava a ver que nunca mais dizias nada!” – Dizia ele.
-“Mas porque não me vens visitar?” – Perguntou-lhe a Menina um dia.
– “Eu? E eu lá tenho tempo pra perder em viagens?” . Nunca a visitou.
Raras foram as vezes que ligou. Mas cobrava a presença e interesse constantes da Menina Girassol.
Hoje raramente se encontram. Ela continua a viver, cheia de sonhos e esperanças.
Volta e meia contam-lhe que o Menino Gota de Chuva continua cinzento e zangado.
Fica sempre com os olhos rasos de água ao sabê-lo chover.
Mas quando isso acontece roda a saia, abre as janelas e deixa a luz entrar.
A luz do lugar onde escolheu viver…
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