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4 Abril, 2025

Cristina Ferreira um caso de preconceito social

"Se há lição a retirar da trajetória de Cristina Ferreira, é que o verdadeiro mérito não precisa de chancela elitista. O talento encontra sempre o seu caminho, mesmo quando as elites o tentam barrar. "

O preconceito não é uma exclusividade dos incultos ou dos ignorante. Não escolhe classe, estatuto ou grau académico. No entanto, há um tipo de preconceito que muitas vezes passa despercebido, porque se disfarça de exigência intelectual ou de um suposto bom gosto: o preconceito das elites perante aqueles que não pertencem ao seu círculo fechado. Este preconceito, mais subtil e muitas vezes mais cruel, tende a desvalorizar o mérito alheio com base na origem, na linguagem, no percurso académico ou na falta de pedigree cultural. E, em Portugal, poucos são os exemplos tão claros desta resistência elitista ao sucesso de alguém como Cristina Ferreira.

Durante anos, a comunicação social e a opinião pública tentaram encaixar Cristina Ferreira em estereótipos redutores. Apresentadora de televisão? Sim, mas do entretenimento popular. Empresária? Sim, mas num registo que nunca foi levado tão a sério como os negócios de homens engravatados ou das dinastias empresariais de Lisboa e Porto. Cristina Ferreira fez-se a pulso, num meio onde poucos acreditavam que alguém sem um sobrenome de prestígio ou uma formação “respeitável” pudesse vingar para além do ecrã.

Cristina Ferreira é vítima do preconceito dos “bem-pensantes”

O seu percurso desafia todas as convenções que a elite gosta de impor como regras absolutas. Licenciada em Ciências da Comunicação, começou como jornalista, mas foi na televisão que se tornou um fenómeno. No entanto, não se contentou em ser apenas um rosto conhecido, criou a sua própria marca, expandiu-se para o mundo editorial e da moda, tomou decisões empresariais audazes, como a saída e o regresso à TVI, e, acima de tudo, soube capitalizar o seu próprio valor enquanto personalidade mediática. Tudo isto num país onde o sucesso, quando não vem com o selo das elites culturais ou económicas, é olhado com desconfiança.

A verdade é que Cristina Ferreira é vítima do preconceito dos “bem-pensantes”. Para eles, um empresário que triunfa na banca ou nas telecomunicações é um visionário; uma apresentadora que se torna empresária de sucesso é “esperta” ou “sortuda”. A linguagem que se usa para descrever as trajetórias nunca é inocente. No discurso das elites, há uma tentativa constante de descredibilizar tudo o que foge ao seu domínio, como se o talento e a capacidade de trabalho fossem monopólios exclusivos de um determinado grupo.

Cristina Ferreira venceu porque percebeu o que muitas elites ainda não entenderam: o verdadeiro poder não está no reconhecimento de quem já tem tudo garantido, mas sim na ligação com o público real. É esse público que compra as suas revistas, vê os seus programas, segue os seus passos e admira a sua coragem. Ao longo dos anos, Cristina não precisou da validação da elite para construir um império. Pelo contrário, prosperou apesar do desprezo, das críticas mordazes e das tentativas de minimização.

E é precisamente isso que incomoda as elites. Não foi uma universidade prestigiada, um apelido sonante ou um círculo restrito de contactos que a levou onde está. Foi a sua própria visão, trabalho e audácia. E essa é a maior afronta para aqueles que acreditam que o sucesso deve ser reservado a quem nasceu nos lugares “certos”.

Se há lição a retirar da trajetória de Cristina Ferreira, é que o verdadeiro mérito não precisa de chancela elitista. O talento encontra sempre o seu caminho, mesmo quando as elites o tentam barrar. E isso, no fundo, é o que mais lhes dói.

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