Luís BonixeOpinião
12 Dezembro, 2016

Eu gosto, tu gostas, eles gostam

O gosto no Facebook tem esse efeito perverso. Quem gosta, em princípio gosta do que alguém escreveu ou publicou. Mas quem não gosta, nem sempre deixa de gostar.

A Carolina tem 13 anos e uma das suas preocupações quando coloca publicações no Facebook ou no Instagram, é ver quantos gostos tem. Ela acredita que o sucesso das suas publicações depende do número de gostos que obtém. E, numa espécie de nova conjugação dos verbos ser e ter, compete com as amigas. Ter mais gostos parece significar ser mais popular. Ser melhor acolhida pelos pares.

Eu também gosto que gostem daquilo que eu gosto. E, por isso, também fico babado quando uma das minhas publicações tem uma dezena de gostos (não consigo almejar a mais que isso !!!). E também gosto de gostar do que os outros publicam.

Mas, parece que não gosto assim tanto. No final deste ano, o sempre atento Facebook veio dizer-me que em 2016 coloquei 815 gostos. Eu pensava que gostava muito, mas afinal não gosto assim tanto. 815 Gostos não é muito. Há muitos “amigos” que gostam muito mais que eu.

Mas já tinha sido avisado disso. Há dias uma amiga minha chamava-me a atenção para o facto de raramente gostar das suas publicações. Tem uma certa razão, esta minha amiga. São publicações da sua vida profissional e a métrica do Facebook diz que quanto mais gostos, mais as publicações se tornam visíveis. Eu e a minha amiga temos outro tipo de relação que se sobrepõe a isto e o caso ficou resolvido: não colocar gosto não significa que não goste. Ela percebeu que gosto dela e do trabalho que faz.

O gosto no Facebook tem esse efeito perverso. Quem gosta, em princípio gosta do que alguém escreveu ou publicou. Mas quem não gosta, nem sempre deixa de gostar. O problema é que numa comunicação digital cada vez mais baseada neste tipo de plataformas, o gosto parece querer ter uma função vinculativa. Quase de declaração amorosa. Quem gosta, gosta mesmo e quem não gosta, não gosta nada.

É assim só nas relações pessoais? Não. Por exemplo, em tempos, quando os meios de comunicação começaram a entrar no Facebook, argumentavam a sua popularidade com o número de gostos que as suas páginas obtinham.

É curioso gostar nos dias que correm.

Gostar assemelha-se a um ato de visibilidade, agarrado muitas vezes à contabilidade e aos algoritmos do Facebook. Se soubermos ultrapassar esse lado do “gosto” e gostarmos mesmo, então será mais fácil gostar.

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