O legado de Manuel Ferreira Patrício esteve presente e inspirou os participantes na 3ª Conferência à qual dá nome, que decorreu esta quinta-feira, 5 de setembro, no Centro de Ciência do Café, em Campo Maior, numa iniciativa promovida pela Coração Delta – Associação de Solidariedade Social do Grupo Nabeiro.
Os “Novos Caminhos para uma Educação Integrada” foi o tema principal desta conferência que permitiu a reflexão e análise do atual sistema educativo.
“Preservar e Inovar”
João Manuel Nabeiro
João Manuel Nabeiro, Presidente da Comissão Organizadora, na sessão de abertura do evento evocou o tema da Inteligência Artificial (IA), com “princípios sólidos e éticos no desenvolvimento humano no processo educativo”, sublinhando que será “um elemento enriquecedor e não um substituto do humano”, realçando, assim, duas palavras que assumem particular relevância nesta matéria: “preservar e inovar”.
João Manuel Nabeiro recordou que a Conferência tem por objetivo “honrar a memória do professor Patrício” e transportar “as suas práticas pedagógicas inovadoras para as salas de aula”.
Obra do Professor Patrício preservada: “Um tesouro intelectual”
Hoje foi assinado o protocolo entre a Universidade de Évora, Coração Delta e Comissão Liquidatária da AEPEC, como forma de “assumir o compromisso para a preservação da obra inédita do professor Patrício (…) são 166 cadernos manuscritos pelo professor que são um tesouro intelectual e que ficará acessível ao público, permitindo que as futuras gerações continuem a aprender e a inspirar-se na sua obra e pensamento”, explicou João Manuel Nabeiro.
Hermínia Vilar, Reitora da Universidade de Évora lembrou que Manuel Ferreira Patrício marcou “a vida da Universidade pelo seu pensamento e ação”, elogiando o Grupo Delta pelo facto de “tomarem a educação como um elemento de reflexão, revelando abertura à sociedade e preocupação com a educação e o futuro de todos”.
“Não existem Pessoas diferentes. Existem Pessoas diversas”
Rui Proença Garcia
Rui Proença Garcia, Prof. Catedrático da Universidade do Porto, abordou o tema do “Contributo da Educação Física para a Concretização do Ideal de Escola como Oficina da Humanidade”.
O professor catedrático apresentou uma entusiasmante reflexão construída a partir das conversas que teve com o seu colega e amigo, professor Patrício.
Numa intervenção “apoliticamente correta”, direcionou o seu pensamento para a inclusão das Pessoas com deficiência na nossa sociedade, nomeadamente na área do desporto e tomando como exemplo os jogos olímpicos, expandindo a sua reflexão para a máxima de que “não existem Pessoas diferentes. Existem Pessoas diversas”.
“O sistema educativo está partido. A escola não funciona”
Pedro Santa Clara
Por sua vez, Pedro Santa Clara, Fundador da Escola de Programação 42 Lisboa e Porto, dissertou sobre a “Experiência de aprendizagem na interseção da tecnologia e criatividade – Programa TUMO”.
O fundador da escola de programação 42 desconstruiu o paradigma que todos temos da escola atual. Numa reflexão inquietante, Pedro Santa Clara alertou para a mudança iminente que irá ocorrer nas escolas, sendo uma transformação inevitável, tendo como catalisador as tecnologias e mecanismos diversos de IA que estão, dia após dia, a evoluir.
“A geração z tem no bolso telemóveis que lhe dão acesso ao mundo de formas revolucionárias e transformadoras. Como é que uma sala de aula tradicional como todos conhecemos pode ser estimulante e competir com esta realidade ?”, questionou.
Pedro Santa Clara considera que o atual modelo de ensino gerido e orientado por um Ministério da Educação está “partido” e “não funciona”, sugerindo que o sistema devia ver na falta de professores “uma oportunidade” para alterar as formas de aprendizagem e evoluir no sentido das transformações que se avizinham.
“A IA é um mecanismo que está sempre presente, sabe tudo e é superior a dar uma aula (…) no futuro, o papel do professor será de agente humano no processo de aprendizagem. Aprender poderá ser uma atividade autónoma no futuro (…) temos de construir escolas diferentes”, desafiou o fundador da Escola de Programação 42.
Pedro Santa Clara deu também como exemplo, o sucesso na aprendizagem que é possível observar nos participantes no Programa TUMO, no qual os jovens, entre os 12 e os 18 anos, escolhem o que querem aprender, através de um sistema de autoaprendizagem.
“Têm agência, escolha, livre arbítrio. Aprendem fazendo”, explicou.
Neste programa, os jovens adquirirem competências em oito áreas temáticas na interseção da tecnologia com a criatividade: Animação, Desenvolvimento de Jogos, Fotografia, Programação, Música, Design Gráfico, Cinema e Robótica.
Uma linha de ensino e aprendizagem muito semelhante à que é praticada pelo Centro Educativo Alice Nabeiro, em Campo Maior, inspirada no sistema educativo idealizado pelo professor Manuel Ferreira Maurício, cuja memória foi evocada e honrada na manhã deste quinta-feira.
A sessão de encerramento contou com as intervenções de Rita Nabeiro, Presidente da Direção Coração Delta e de Pedro Dantas da Cunha, Secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa.
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