A fazer fé na imprensa, o Ministério da Educação pretende aumentar a presença de conteúdos de análise e crítica dos média nos currículos escolares. No Jornal I (1 de março de 2017) diz-se que no âmbito de uma disciplina que terá a designação de Educação para a Cidadania serão abordados temas como a literacia financeira, a segurança, o consumidor e também os média. Nos últimos tempos, tem havido algumas iniciativas neste campo e que mostram o grau de amadurecimento em relação à presença de questões ligadas à análise dos meios de comunicação nos currículos escolares e até, por sequência, na sociedade.
Ainda no rescaldo do Congresso de Jornalistas realizado em janeiro, aquela classe profissional aprovou uma resolução na qual se afirma que é “urgente promover a literacia mediática, com iniciativas no domínio da educação pré-universitária e junto da população em geral”. E já antes muitos outros documentos evidenciaram a importância do tratamento crítico dos média enquanto forma de compreensão do mundo.
Apesar disso, ainda há um caminho a percorrer. Os média continuam a ser uma espécie de papão para alguns professores e educadores em Portugal. Um terreno onde os meios de comunicação não têm tido vida fácil é no ensino pré-escolar.
As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPEs) cuja nova versão entrou este ano letivo em vigor, substituindo o documento de 1997, passou a dar enfoque à tecnologia, praticamente esquecendo os média enquanto veículos de conhecimento do mundo. As OCEPEs enfatizam os meios tecnológicos e o facto de as crianças estarem rodeadas de tecnologia, ali vista no seu sentido mais amplo. Há naquele documento uma mistura entre a tecnologia do quotidiano, meramente utilitária (como as batedeiras, os semáforos, etc) e a tecnologia dos média (com menor peso). Não parece fazer sentido esta abordagem tão genérica, reduzindo assim importância à literacia tecnológica e mediática. No ponto do documento que lhe é dedicado, apenas se fala por uma única vez na Televisão. Os jornais e a rádio são totalmente esquecidos. Ao invés, há demasiadas referências a robots, batedeiras, secadores de cabelo e semáforos.
É um olhar muito focalizado na tecnologia (não necessariamente aquela que se associa aos média) enquanto instrumento e objeto do dia-a-dia e muito menos na produção/análise crítica dos conteúdos mediáticos, seja através do jornal ou da escuta de programas de rádio. No documento, há uma rápida referência à prática de conversar com as crianças sobre programas de televisão.
Trabalhar os média com crianças tão pequenas (3-5 anos) é um desafio e cuja importância foi reconhecida pelo menos desde 1982 quando a Unesco aprovou a declaração de Grunwald, nela recomendando a adopção de “programas integrados de educação para os media que se estendam desde a educação pré-escolar até à universidade e à educação de adultos”.
Falta dar esse passo em Portugal com a certeza de que o esforço que implica é compensado pela motivação que as crianças sentem neste tipo de trabalhos.
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