Luís BonixeOpinião
16 Maio, 2018

E se o Domingo Desportivo voltasse?

Estes pseudo-protagonistas do futebol não são os responsáveis por aquilo que se passou com o Sporting em Alcochete, mas não podemos ignorar que criam um clima de conflito (...)

À época, o meu vizinho do andar de cima era um ferrenho benfiquista. Ainda deve ser. Aos domingos à noite não havia alternativa. Assistia ao Domingo Desportivo na RTP e a sua emoção era tal que gritava em alto e bom som os golos do Benfica, mesmo nos resumos do dia. Aquilo era como se fosse em direto. Eu, cá em baixo, adepto de um clube mais modesto, contentava-me com os minutinhos que a minha equipa aparecia na televisão.

Mas, era isto. O Domingo Desportivo de Ribeiro Cristóvão, de Mário Zambujal ou de Cecília Carmo era uma espécie de missa ao domingo à noite para a malta que queria ver bola. E não é força de expressão. Ali, via-se mesmo bola. Jogadores, jogadas, fintas, treinadores, golos, defesas. Aquilo era um elogio ao futebol, ao desporto. De vez em quando havia polémica, mas o espetáculo falava sempre mais alto.

Não sei bem o que se passou para termos dado uma tal volta nos programas de desporto. Há mais canais televisivos e com isso mais concorrência. Há mais tecnologia que permite ver e (supostamente) analisar os lances do jogo. E há também mais gente envolvida no negócio do futebol com sede de protagonismo, mesmo que para isso se disponham a dizer disparates e contribuam para enxovalhar a modalidade que dizem tanto gostar.

Sempre tivemos presidentes polémicos e com eles sempre tivemos polémica, mas os presidentes são parte da modalidade. Os pseudo assessores de comunicação (em particular dos três principais clubes portugueses) não são nem parte do futebol, nem parte da comunicação. É uma novidade dos últimos tempos no futebol português. Os assessores de comunicação ocupam-se a insultar o adversário utilizando os canais que têm ao seu dispor. Estes assessores de comunicação não servem o desporto, nem fazem comunicação.

Os comentadores dos programas de televisão são ainda menos. Não se preocupam em comentar. A sua função é manter e dar voz a questões marginais ao desporto. O problema não é não serem imparciais (o que seria normal num adepto de um clube), o problema é não serem competentes nem para aquilo para que são pagos. Não comentam, não analisam, não explicam.  Realimentam polémicas que garanta a sua própria existência enquanto comentadores.

Estes pseudo-protagonistas do futebol não são os responsáveis por aquilo que se passou com o Sporting em Alcochete, mas não podemos ignorar que criam um clima de conflito, rastilhado que pode ser alimentado por quem não tem a inteligência suficiente para utilizar outros argumentos para resolver as questões, a não ser recorrendo à violência física.

À boleia do que se assistiu esta semana em Alcochete, as televisões que alimentam este tipo de programas terão também elas de fazer uma reflexão sobre estes formatos e ter a coragem para serem criativas, propondo outros modelos que combinem alguma elevação no debate e a captação de audiências. Dá mais trabalho, mas compensará!

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