Numa cidade essencialmente militar desde a sua génese, não é de estranhar que aqui se instale o primeiro hospital militar de Portugal. Hoje em dia, orgulhosamente, podemos dizer que é dos poucos edifÃcios históricos da cidade-quartel recuperados pela iniciativa privada, transformado em unidade hoteleira de quatro estrelas.
Tenho duas vagas recordações deste espaço antes de ter as atuais funções. A primeira, muito remota, de ter ali entrado, ainda funcionando como hospital militar, pela mão de meu pai. A outra, uns quantos anos depois, e ainda menino, numa noite de quinta-feira santa, acompanhando a procissão do Mandato, em que a pequena capela estava devidamente decorada para acolher o cortejo da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia local no seu périplo pelas igrejas do centro histórico.
Instalado sobre o baluarte homónimo, o hospital militar vai aproveitar a preexistência dum convento de S. João de Deus, para em plena obra de construção da muralha seiscentista, utilizar esta estrutura defensiva para edificar o Real Hospital Militar de Elvas, em 1643, sendo entregue a sua administração aos hospitalários. Ainda hoje na fachada do edifÃcio resiste, num nicho, a imagem do santo alentejano e a “loggia” de feições renascentistas, que provavelmente seja original do primitivo convento.
O hospital militar de Elvas fechou portas em 1976, e os elvenses tiveram que esperar até 2004 para ver como o antigo convento-hospital recuperava uma utilidade social, transformado em hotel. A mesma porta pela qual entravam os doentes, recebe hoje os turistas acolhendo-os no antigo átrio, com os seus ancestrais azulejos. A capela e respetivas dependências, entretanto dessacralizada, acolhem o agrupamento local de escuteiros, e a antiga enfermaria baixa, um dos locais mais belos do antigo hospital castrense, transformado em salão de eventos. Este mesmo espaço acolheu num passado próximo, o quartel dos soldados da paz, por onde deambulei maravilhado entre enormes camiões de ataque a incêndios e alguma que outra relÃquia motorizada do passado da corporação elvense.
Circular entre a avenida Garcia d’Horta e o largo S. João de Deus é ter que passar pelos túneis e debaixo deste antigo complexo hospitalar. Esta foi a solução encontrada para ampliar o hospital, no sec. XVII, sem impedir a ligação entre o baluarte e a muralha. Esta situação seria melhorada nos anos 50 do século passado com a abertura do segundo túnel, mutilando o espaço da antiga enfermaria baixa, numa época em que esta zona se transforma na principal entrada no centro histórico, com a construção do viaduto.
Outro dos elementos destacáveis neste complexo é a existência duma antiga torre da muralha fernandina, que sendo dos escassos testemunhos da cerca medieval, é hoje em dia a sentinela que saúda todos aqueles que a diário ou de forma esporádica entram pelo viaduto das portas de Évora no coração histórico de Elvas.
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