Admitamos: olhamos para a tecnologia como uma forma de alimentar o nosso desejo de infinito. Um desejo de imortalidade e plena felicidade. Uma ilusão de que tudo tem uma solução e que não há problemas eternos. É a nossa maneira de chutar a morte para o lado.
Se olharmos para a Web Summit (ou, no meu caso, se olharmos para as notícias da Web Summit) percebemos que há ali solução para tudo. Há solução para os incêndios (bem a propósito, aliás), para a dor de dentes ou para os gastos desnecessários de água (a lista do Observador é muito boa!). Olhando para a Web Summit também percebi que o meu carro que comprei há meses e que pago em suaves prestações (!), afinal já está fora de tempo. Vêm aí os que voam, o que me dará um imenso jeito para a minha vida.
E há também a Sophia que de forma provocadora já nos garante que vai roubar os nossos empregos, mas que isso vai ser uma coisa boa! Ou seja, num mundo websumitiano nem perder o emprego é mau!
Na Web Summit até o que já foi dito mil vezes, parece novo. Li nas notícias (cá está) que um trio de jornalistas foi anunciar a esta cimeira para a qual se paga bem para ouvir coisas novas, que os jovens já não veem televisão e que o jornalismo tradicional tem de voltar ao básico que é fazer reportagem. Num tal ambiente de tecnologia, inovação e visão de futuro, ninguém poderia sequer suspeitar que um tal anuncio tem, pelo menos, uma década!
Mas na Web Summit tudo é novo e tem futuro.
E para nos garantir isso mesmo, os jornalistas (os nossos) fizeram questão de não perder pitada. Mesmo, depois de o dia acabar. Agora é preciso dizer que aquela gente, jovem, inovadora e cheia de ideias para todos nós, não são uns geeks agarrados aos tablets e aos telemóveis a tratar dos nossos problemas. Era preciso dizer que também ali há diversão e, por isso, inundaram-nos de peças sobre a noite dos congressistas. E chamaram a isso jornalismo.
A admiração pela tecnologia e a oportunidade, valem acima de tudo. Mesmo para ser voluntário numa conferência onde não falta dinheiro. Vale pela experiência. Pelo fascínio do novo mundo. Garantem.
Esperemos todos que o empreendedorismo do século XXI não seja feito à custa de voluntários.
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