No concelho de Elvas realizam-se duas procissões dos Passos ou da Via Sacra, sendo atualmente a mais popular a realizada em Vila Boim, enquanto a da cidade tenta resistir e manter a secular tradição.
Olhemos hoje para as capelas dos Passos do centro histórico de Elvas que dão forma à tradição de recriar os últimos passos de Cristo. Foi no século XVIII que a Irmandade das Chagas, decidiu a construção de capelas evocativas dos passos da Via Sacra. A intenção inicial da construção das 14 capelas viu-se frustrada devido a problemas financeiros, mas ainda assim entre 1725 e 1730, conseguiu a Irmandade erguer 5 capelas que fazem parte do património religioso da cidade.
Durante anos recordo-me de assistir a esta procissão, recordo-me do cheiro a ervas e flores campestres que decoravam as capelas, e que durante os dias seguintes perfumavam a rua. Eram outros tempos e a tradição obrigava a rumar ao centro e acompanhar ou ver passar o cortejo religioso que ao som da banda filarmónica visitava as 5 capelas da Via Sacra.
Este património religioso tem a particularidade de ser visÃvel sem restrições horárias graças à grade metálica artÃstica (sec. XIX) que substituiu as portas de madeiras que os protegiam originalmente. Ao passear pela rua de Alcamim, largo da Misericórdia, largo S. João de Deus, rua de Olivença e rua André Gonçalves é possÃvel admirar estas verdadeiras obras de arte barrocas.
A tipologia destas capelas elvenses repete-se na arquitetura e decoração, ainda que adaptando-se a cada um dos episódios relatados tradicionalmente na Via Sacra. Todas elas estão englobadas dentro de outros edifÃcios residenciais particulares, com exceção da capela que hoje se situa no largo S. João de Deus, e que originalmente se encontrava na rua da Cadeia, transferida quando da demolição do edifÃcio da antiga cadeia e da abertura da escada que hoje sobe ao lado da torre Fernandina.
Recordo-me também de há uns anos atrás ao passear pelas ruas do centro de Elvas em época natalÃcia ver os tradicionais presépios que ali eram exibidos, num trabalho de dedicação dos cuidadores destas capelas.
Recentemente restaurados, recuperaram o esplendor dos azulejos que marcam o espaço. Dois anjos ladeiam o emblema da confraria das Chagas, que coroando a capela, num trabalho de mármore que imprime sumptuosidade ao exterior das capelas. As grades (sec. XIX) que fecham as capelas permitem aos visitantes admirar os painéis de azulejos e pinturas que decoram o seu interior.
Cada capela representa uma estação de penitência, facilmente reconhecÃvel pelas ilustrações dos azulejos e da tela do altar, mantendo no seu conjunto a mesma tipologia, ou seja, um coroamento de mármore com anjos ladeando o emblema da confraria da Chagas pelo exterior, enquanto no interior as paredes laterais e abobada coberta de azulejos figurativos oitocentistas e o altar de mármore com tela retratando a estação. Assim sendo na rua de Olivença figura a primeira queda de Jesus e a segunda está patente no largo da Misericórdia. Na rua da Alcamim represnta-se o encontro de Jesus com sua mãe, sendo o episódio da Verónica o tema da tela da capela da rua André Gonçalves. No passo do largo S. João de Deus, devido a que foi transferido desde a rua da Cadeia, a tela foi substituÃda por uma talha dourada em que se representa Jesus açoitado.
Atualmente poucos são aqueles que percorrem as ruas do centro histórico acompanhando a imagem do Senhor Jesus dos Passos, que saindo da igreja do Colégio, vai ao encontro dos andores com S. João e da Virgem Maria que desde a antiga Sé vão ao seu encontro, para partirem na visita anual às capelas barrocas dos Passos elvenses, contudo a recordação de outros tempos e a possibilidade de admirá-los diariamente são uma mais-valia do património desta minha cidade.
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