Que tempo é agora?

Cada momento constrói o tempo passado. E o futuro também. Nem me dou conta do presente porque agora depressa será passado.

O presente falado, escrito ou pensado é sempre passado mesmo que qualquer presente circunstância se prolongue porque representa alegria ou tristeza.

Esta extensão do presente já não é presente nem passado mas sim futuro. O resto que passa porque não nos merece qualquer emoção são vulgares intervalos de tempo na vida: meras passagens que não retemos ou interpretamos como acontecimentos negativos ou positivos. São o tempo oco. E ontem? Ontem é passado mas revelou-se rapidamente futuro. E o presente que deu origem aos dois tempos é duramente extensível e exige decisões igualmente duras. E daí talvez resulte um futuro sem sobressaltos ou ocorrências previsíveis.

É possível que coisas e pessoas boas ou más que as deixam de ser agora para que cada uma delas seja o seu oposto. É estranho mas não tão estranho que não tenha explicação.

Mais rápido nos prendemos ao passado ou ao futuro do que ao presente. E hoje? Hoje, este prolongamento do passado já cravou no futuro um espinho mas que o tempo fará cair. Ficará a sua marca mas o presente continuará a acontecer e gerará alegria. Cada momento foi mais depressa do que o que é.

O futuro acontece agora, já. E tanto que pensei no momento que passou até que futuro me desse coragem para que passo a passo ganhasse algum tempo oco.

Fotografia: Carla Fernandes