José MendesOpinião
27 Julho, 2016

O Aníbal Político

A chantagem, sempre escondida em mensagens subliminares, é uma característica de Cavaco Silva.

Ainda é cedo para avaliar a presidência de Marcelo, mas tem sido evidente que o atual presidente se tem esforçado para transmitir esperança e confiança, sem se afastar dos seus princípios cristão-liberais, como ficou patente nos vetos que utilizou. Porém, ressalta à vista a diferença abissal relativamente ao anterior inquilino de Belém.

Cavaco Silva, depois de um silêncio em que ninguém deu pela sua falta, “ressuscita” para dar conta que haverá verdades (horríveis, certamente) que só os “supremos interesses da nação” fazem com que permaneçam ainda escondidas. Essa terrível caixa de Pandora está nas suas mãos (de Cavaco), e que, no tempo que ele achar devido, abrirá para encher o país (e talvez o mundo) de sujeira.

Há palavras que por si só seriam revelações, se neste caso nós não conhecêssemos já a peça…

A chantagem, sempre escondida em mensagens subliminares, é uma característica de Cavaco Silva. O alvo, quase sempre só ele sabe quem é, mas a forma como o diz adapta-se a quem serve a carapuça. E a carapuça, das palavras de Cavaco Silva, serve a muita gente, porque a frontalidade não é uma qualidade que o distinga. Em vez do discurso franco, direto, sincero, o antigo presidente sempre preferiu tergiversar. “Eu sei, e você sabe que eu sei que sabe que sei” é uma frase que lhe assenta como uma luva, embora não tenha sido ele a proferi-la. Cavaco gosta de enigmas, mistérios e tabus, toda a sua vida os alimentou proferindo frases enigmáticas – mas não herméticas, como Assunção Esteves – frases que se tornam claras e límpidas quando vistas à luz de um prisma que lhe acrescenta o que ficou subentendido.

Cavaco Silva tem horror à sua irrelevância, por isso, sempre que se sente esquecido, sobe à sua cátedra e ameaça, alarma, profetiza. Na sua mão esquerda diz ter o caos e na direita a salvação. Só os supremos interesses da nação fazem que Cavaco sustenha os ventos, como os quatro anjos do Apocalipse. No momento que só ele conhece, revelará o que sabe e, quando o fizer, certamente “choverá sangue e fogo”. Resta saber se não haverá também muita coisa que ele gostava que não se soubesse, mas que em breve seja revelado.

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