… Não gosto nem sou de assinalar os dias de mãe, pai, disto ou daquilo. Não me fazem sentido. Acho sempre que todos os dias são dias. Destacar um que seja, é acentuar uma diferença ou dar-lhe menos atenção nos outros dias. Eu tenho mãe os dias todos. Os anos todos. Há 43 anos que a tenho ali. À distância que eu precisar sempre que precisar. E ela tem um filho. Sabe que basta precisar para eu lá estar.
Era para isto que eu gostava de chamar a atenção. No dia da mãe, todos enaltecem o facto de terem, de a terem tido. Mas não sei se muitos sossegam para pensar se estão lá enquanto filhos? Isso é que conta. Isso é que importa. Eu tenho o orgulho imenso de pertencer a um grupo de oito irmãos (fomos nove) nascidos de uma mãe que nasceu para ser mãe.
À sua maneira. As mães não são todas iguais, não podem ser, nem devem ser. Não queria ter outra mãe. Tenho esta que sabe exactamente o que cada filho é e que respeita sem questionar.
A liberdade com que nos criou, a disciplina com que nos educou e o rigor na formação de carácter faz com que hoje, cada um dos seus oito filhos, apesar de todos diferentes entre si, tenha escolhido um caminho que a orgulha. Ser mãe é estar. Os filhos não são da mãe, são do mundo. À mãe cabe olhar por eles de forma cautelosa até terem as suas asas e depois voarem, e recebê-los se voltarem sempre ao ninho. Com o tempo voltam para aconchegar a mãe. Eu não sei se a minha mãe é a melhor do mundo, nem isso me importa. É a minha mãe.
Aquela a quem devo a minha vida e definição de carácter (e ao meu pai também apesar de não ter tido boa relação com ele, sei exactamente o que lhe devo e fez por mim). A minha mãe viveu toda a sua vida agarrada à bandeira da liberdade.
Viajou, namorou, casou, teve filhos, conheceu o mundo, estudou, é uma das mulheres mais cultas que conheço. Fala de tudo e em vários idiomas, tem uma vida que dava um filme, vem de uma linhagem rara, foi modelo, actriz, herdeira,  empresária, empregada, trabalhou no campo, foi uma aventureira e à frente no seu tempo foi uma orgulhosa mãe solteira…
E lá atrás alguém lhe passou a mensagem que o que faz uma pessoa é a forma como trata os outros. Essa é a melhor lição que se pode passar a um filho. Somos oito irmãos, temos dias bons e dias maus, mas temos uma mãe que dentro da sua vida nos passou as ferramentas para que a nossa fosse feliz.
Não foi fácil a vida da minha mãe a partir de certa altura. A minha mãe ficou sem mãe muito cedo. Depois sem pai. Mas não foi caso único, e não faz dela melhor nem pior.
Não viveu amargurada com isso, nem com o facto de ter perdido um filho, nem com o facto de ter visto o seu casamento acabar, a sua fortuna desaparecer… Agarrou sempre a vida de frente com os olhos postos num dia melhor.
Agarrou-se ao trabalho, aos filhos, aos netos e aos livros.
Não conheço ninguém no mundo que goste tanto de ler como a minha mãe. É uma mulher culta, educada, rabugenta (como todas as mães) mas acima de tudo é uma avó maravilhosa, a quem eu devo muito pelo muito que fez e faz pela minha filha. Tem muito mais tempo de ser avó do que foi mãe, porque a vida é feita assim.
Mil anos que eu viva, não terei palavras para agradecer a dedicação à minha filha Leonor. Há coisas que não se dizem, porque as mães conhecem os filhos, melhor do que os filhos conhecem as mães. Eu tenho uma grande mãe mas a minha filha tem a melhor avó do mundo!… E sem ela tudo seria muito mais difÃcil.
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