David White e Alison Le Cornu propuseram uma tipologia para caracterizar o compromisso dos indivíduos com a Internet. Partiram de uma crítica a uma outra tipologia sugerida por Mark Prensky segundo a qual a relação mantida com a Internet se dividia entre Nativos (os que nasceram num mundo digital) e imigrantes (os que não nascendo, tiveram de se adaptar ao online).
A sugestão de White e Cornu vai no sentido de dividir esse compromisso de acordo com o comportamento que temos com a Internet. Assim, os “Visitantes” serão todos os que não “vivendo na net” a visitam e consultam. Fazem o que têm a fazer e saem. Para estes, a web é uma ferramenta. Já os “Residentes” serão aqueles que olham para a net como um espaço onde se está e se encontram. Partilham e estão com os outros. Vivem para ela e nela.
Para se procurar compreender alguns dos fenómenos que se passam na Internet é preciso entender a importância que a rede global adquire para os indivíduos. E, se fizermos uma auto-crítica, percebemos que talvez estejamos a dar demasiada importância a algo que de facto não tem. Talvez nem Castells, que comparou a Internet à invenção da electricidade, imaginaria a relevância que a rede global teria nas nossas vidas. Sobretudo, no aspecto pessoal e social.
Na realidade, somos nós que voluntariamente cedemos uma parte da nossa liberdade individual, o que não deixa de ser paradoxal quando um dos argumentos tantas vezes invocado é justamente o de acharmos que a Internet nos torna mais livres.
A nossa liberdade individual é colocada em causa quando por iniciativa própria disponibilizamos todo o tipo de informações pessoais e até íntimas. Quando achamos que os outros se interessam pelo restaurante que visitámos, pelas férias que tivemos ou pela festa familiar que partilhámos. Queremos que os outros saibam que estamos felizes ou que precisamos de mimos. E acreditamos, quantas vezes ingenuamente, que os outros querem mesmo saber disso.
A socialização da vida privada e íntima nas redes sociais não pode deixar de causar danos à nossa autonomia enquanto indivíduos e à liberdade enquanto cidadãos. E uma das consequências é ficarmos reféns daquilo que publicámos e dissemos ao outro que nos é anónimo. Ao fazê-lo, actuamos como Residentes. Fixos. Confundimos o espaço virtual, que é distante, ausente e sem “olhos nos olhos” com a própria realidade social onde nos movemos e relacionamos com o outro.
Mesmo que a Baleia Azul não nos viesse agora atormentar, a verdade é que estamos a ceder muito daquilo que é nosso, partilhando-o com um mundo desconhecido. E sobre isso, é altura de pensarmos todos naquilo que andamos a fazer. De preferência arrepiando caminho!
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